sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

O BRASIL ANEDÓTICO LXII



A ESPADA E A BAINHA
Ernesto Matoso - "Coisas do meu tempo", pág. 237.
Chefe, embora, do Partido Conservador na província do Rio de Janeiro, o conselheiro Paulino José Soares de Sousa deixava nas mãos de Andrade Figueira todo o seu prestígio eleitoral. Certo dia, na Câmara, respondendo um aparte daquele político, fulminou-o Lafayette, então ministro, com esta observação:
- Eu sei que V. Excia. se diz chefe do Partido Conservador. Mas, de chefe, V. Excia. só tem a bainha.
E entre o riso da Câmara:
- Porque a espada, essa, está nas mãos do seu colega, o deputado Andrade Figueira!...
VISÃO DE COMBATE
Tobias Barreto - "Pesquisas e depoimentos", pág. 365.
Vendo-se, de súbito, traído pelos próprios camaradas de farda, com Floriano à frente, Deodoro passara a este o governo e subira, com os seus sofrimentos agravados, para Petrópolis. De regresso, o peito opresso, as pernas horrivelmente inchadas, recomendara-lhe o médico que subisse a pé, lentamente, e descesse, todas as manhãs, a ladeira da rua Taylor. Lucena era o seu companheiro de todo o dia, leal e devotado.
Certa manhã de abril, em 1892, desciam os dois a ladeira, Deodoro ao braço do amigo, quando, ao descortinar-se o panorama da baía, o generalíssimo estacou, os olhos fuzilantes. A barba tremia-lhe. E foi numa espécie de delírio, que exclamou, como na agitação de um combate:
- Onde está essa infantaria que não avança? E esses navios de fogos apagados?
Levado para casa, Deodoro nunca mais saiu.
MANUEL BEKMAN
Barbosa de Godói - "História do Maranhão", tomo II, pág. 318.
Português embora, Manuel Bekman se havia identificado de tal maneira com os brasileiros, que amava o Brasil muito mais que a sua pátria de nascimento. Daí a sua atitude desassombrada, chefiando o movimento popular contra o capitão-mor, interino, Baltasar Fernandes e, principalmente, contra o estanco, que estava arruinando a capitania do Maranhão. Vitoriosa a revolução, começava dentro de pouco tempo o desânimo entre os outros colaboradores, até que se restabeleceu o prestígio da metrópole, com a chegada de Gomes Freire a S. Luiz.
Condenado à morte e posta a prêmio a sua cabeça, foi Bekman entregue a uma escolta de Gomes Freire por um seu afilhado filho de criação, de nome Lázaro de Meio, quem haviam prometido uma patente de capitão. Sereno e digno, subiu o chefe da revolta maranhense ao patíbulo, exclamando, do alto dele:
- Pelo povo do Maranhão, morro contente!
A COMENDA DE DISRAELI
Ernesto Matoso - "Coisas do meu tempo", pág. 79.
Atendendo aos serviços prestados por Disraeli, primeiro ministro inglês, em favor das boas relações entre o seu país e o nosso, resolveu Pedro II enviar-lhe a comenda de dignitário da Ordem da Rosa. Semanas depois recebia, porém, o ministro de Estrangeiros, Manuel Francisco Correia, uma carta do estadista inglês, declarando não aceitar o distintivo, pois, possuindo outros de categoria mais elevada, não podia usar esse, na sua posição de chefe do governo da Inglaterra. Manuel Francisco Correia estava certo de que, ciente do caso, o Imperador mandaria dar a Disraeli a grã-cruz da Ordem.
- Não aceitou esta - fez Pedro II, tomando a comenda. - Muito bem.
E guardando-a:
- Pois outra não lhe dou!
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).

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