Antero Coelho Neto (*)
Como sempre acontece, e aqui temos referido, no começo de
um novo ano muito se fala, lê e escreve, sobre planos, sonhos e projetos
futuros.
A época de renovações e anseios nos faz refletir no que
se passou e no que há de vir. Pensamos, pesamos e comparamos as coisas boas que
fizemos e outras tantas que deixamos de fazer, ou erramos ao tentar fazê-las.
Nem sempre é fácil.
Agora, na maturidade de tantos começos, sinto, mais
forte, uma necessidade de avaliar o que deixei de fazer. E o por que deixei de
fazer e, assim, adiar. Tenho certeza que muitos, jovens e idosos, sentem as
mesmas coisas.
Não deliberadamente, mas sempre deixamos escapar tantas
atitudes, tantas gentilezas, tantas provas de carinho, de afetos ou,
simplesmente, de amizade, de gratidão.
E aí está a grande perda: o GESTO ADIADO. Ele passa, se
esvai, parece fugir de nós e perder-se no tempo. Mas ele não sai de nossa
lembrança e também de muitos a quem ficamos devendo. E destaco, mais uma vez, o
valor de nossa Memória. Ao pensar nas causas desses efeitos tão importantes,
lembramos as raízes primárias daquela educação repressora dos pais (sobretudo o
pai) cuidadosos e vigilantes, traumatizando os filhos homens para que se tornem
futuros “machos”.
Nós, pobres meninos, não deveríamos chorar, sorrir
demais, vestir cores alegres, gostar de flores, de jardins. Éramos sérios,
tímidos e até antipáticos. Meninos não podiam ser afetuosos, carinhosos,
gentis. Éramos sisudos; os alegres e conversadores eram “incheridos”... Tínhamos
de ser “machos”. E mais, tínhamos de ser forte, o provedor, o exemplo, o chefe.
E isso não incluía as emoções, as lágrimas, a delicadeza, o afago, o carinho.
Pois agora estamos em novo começar. Estamos adultos ou
idosos. Vamos resgatar os gestos que adiamos? Sempre cabe um pedido de
desculpas, um telefonema, uma gentileza, um tocar, um abraçar, um beijar, um
afago, um obrigado!
Ainda é tempo. Vamos aprender e aplicar as lições que nos
dão - de graça – as Mulheres. Aqui, já destaquei, muitas vezes, o tanto que
aprendi com as mulheres. Maravilhosos seres que estão sempre à nossa volta,
lindas, coloridas, álacres, risonhas e, tão encantadoramente conversadoras e
prolixas. E por que são assim? Por que não carregam em seus lindos ombros –
mesmo quando chefes de famílias - aquela árdua e penosa missão de ser um MACHO.
E foi assim, com carinho e muito amor, que aprendi com
minha mulher, alunas, amigas ou namoradas, esses ensinamentos que nos tirou da
vida rotineira e melancólica que tinham reservado para muitos de nós homens. E
o melhor Tempo passou a ter cada vez mais importância para a nossa vida futura
e, conseqüentemente, para a nossa Memória.
Pensa nisso ao planejar tua vida para 2014. Minha mulher
sempre disse que tenho de relembrar e confessar, publicamente, que Ela foi
minha maior e melhor Professora. E ela sabe cobrar...
(*) Médico,
professor e ex-presidente da Academia Cearense de Medicina.
Fonte: O Povo,
Opinião, de 5/2/2014. p.4.
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