segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

O GESTO ADIADO



Antero Coelho Neto (*)
Como sempre acontece, e aqui temos referido, no começo de um novo ano muito se fala, lê e escreve, sobre planos, sonhos e projetos futuros.
A época de renovações e anseios nos faz refletir no que se passou e no que há de vir. Pensamos, pesamos e comparamos as coisas boas que fizemos e outras tantas que deixamos de fazer, ou erramos ao tentar fazê-las. Nem sempre é fácil.
Agora, na maturidade de tantos começos, sinto, mais forte, uma necessidade de avaliar o que deixei de fazer. E o por que deixei de fazer e, assim, adiar. Tenho certeza que muitos, jovens e idosos, sentem as mesmas coisas.
Não deliberadamente, mas sempre deixamos escapar tantas atitudes, tantas gentilezas, tantas provas de carinho, de afetos ou, simplesmente, de amizade, de gratidão.
E aí está a grande perda: o GESTO ADIADO. Ele passa, se esvai, parece fugir de nós e perder-se no tempo. Mas ele não sai de nossa lembrança e também de muitos a quem ficamos devendo. E destaco, mais uma vez, o valor de nossa Memória. Ao pensar nas causas desses efeitos tão importantes, lembramos as raízes primárias daquela educação repressora dos pais (sobretudo o pai) cuidadosos e vigilantes, traumatizando os filhos homens para que se tornem futuros “machos”.
Nós, pobres meninos, não deveríamos chorar, sorrir demais, vestir cores alegres, gostar de flores, de jardins. Éramos sérios, tímidos e até antipáticos. Meninos não podiam ser afetuosos, carinhosos, gentis. Éramos sisudos; os alegres e conversadores eram “incheridos”... Tínhamos de ser “machos”. E mais, tínhamos de ser forte, o provedor, o exemplo, o chefe. E isso não incluía as emoções, as lágrimas, a delicadeza, o afago, o carinho.
Pois agora estamos em novo começar. Estamos adultos ou idosos. Vamos resgatar os gestos que adiamos? Sempre cabe um pedido de desculpas, um telefonema, uma gentileza, um tocar, um abraçar, um beijar, um afago, um obrigado!
Ainda é tempo. Vamos aprender e aplicar as lições que nos dão - de graça – as Mulheres. Aqui, já destaquei, muitas vezes, o tanto que aprendi com as mulheres. Maravilhosos seres que estão sempre à nossa volta, lindas, coloridas, álacres, risonhas e, tão encantadoramente conversadoras e prolixas. E por que são assim? Por que não carregam em seus lindos ombros – mesmo quando chefes de famílias - aquela árdua e penosa missão de ser um MACHO.
E foi assim, com carinho e muito amor, que aprendi com minha mulher, alunas, amigas ou namoradas, esses ensinamentos que nos tirou da vida rotineira e melancólica que tinham reservado para muitos de nós homens. E o melhor Tempo passou a ter cada vez mais importância para a nossa vida futura e, conseqüentemente, para a nossa Memória.
Pensa nisso ao planejar tua vida para 2014. Minha mulher sempre disse que tenho de relembrar e confessar, publicamente, que Ela foi minha maior e melhor Professora. E ela sabe cobrar...
 (*) Médico, professor e ex-presidente da Academia Cearense de Medicina.
Fonte: O Povo, Opinião, de 5/2/2014. p.4.

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