Por Andréia Martins (*)
Jovens que não estão
trabalhando nem procurando uma colocação no mercado e que estão fora da escola.
Esse é o perfil da chamada “geração nem nem”, que inclui pessoas de 15 a 24 anos que não trabalham
nem estudam.
Um estudo
divulgado no dia 13 de fevereiro pela OIT (Organização Internacional do
Trabalho) apontou que 21,8 milhões
dos jovens latino-americanos se enquadram nesse perfil. Uma pesquisa
anterior da OIT, divulgada logo no início do ano, apontava que, de
Mas se
engana quem pensa que estamos falando de um fenômeno novo. Esse perfil de
jovens já é tema de estudos da OCDE (Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico) desde o final dos anos 1990. Entre 1997 e 2010,
jovens com idade entre 20 e 24 anos, que não trabalhavam nem estudavam já eram
13% da população, chegando a 17,6% em 2010. O que se nota hoje é um aumento
desse fenômeno.
Em Portugal
esses jovens são quase meio milhão. Na Irlanda e na Espanha a taxa dos
"nem nem" cresceu 9,4 e 8,7 pontos porcentuais desde 2007; 20% dos
jovens irlandeses e espanhóis estão nessa condição, taxa considerada
“preocupante” pela OIT. O Brasil está a um passo da categoria preocupante, com 19% de
jovens com esse perfil.
O fenômeno
chamou tanta atenção que, em 2012, com o alto número de jovens até 30 anos fora
do mercado de trabalho e das escolas, a italiana Benetton criou uma campanha
publicitária com fotos de jovens e a frase "Desempregado do Ano". A
ideia era chamar atenção para a necessidade de oportunidades de trabalho para
esse grupo de pessoas, reflexo de fatores econômicos e sociais, mas também para
um desânimo por parte dos jovens em encontrar oportunidades de trabalho com
baixa remuneração, assim preferem ficar desempregados até que novas
possibilidades apareçam.
"A
falta do acesso a oportunidades de trabalho decente gera frustração e desânimo
entre os jovens. Há 108 milhões de razões pelas quais temos que agir agora”,
disse o diretor-geral da OIT, Guy Ryder.
Fenômeno mundial
Conhecidos
também pela sigla
No artigo
“Juventude, trabalho e desenvolvimento: elementos para uma agenda de
investigação", o sociólogo Adalberto Cardoso, da Uerj (Universidade do
Estado do Rio de Janeiro), completa que, a análise do fenômeno em cada país
deve levar em conta aspectos como a oferta de emprego nas cidades, o acesso à
educação e o perfil familiar por não se tratar de um problema com respostas e
soluções iguais para todos os casos.
No Brasil, o
fator renda é um dos que mais influencia o crescimento de jovens com o perfil
“nem nem”. “Em 2000, famílias entre as 10% mais pobres tinham 233% mais
chances de ter um ‘nem nem’ entre os seus do que famílias entre os 10% mais
ricos. Em 2010, esse valor havia aumentado para quase 800%. Isto é, a
disponibilidade de recursos familiares, tal como expressa pela renda enquanto
capacidade de aquisição de bens como saúde e educação para seus membros, por
exemplo, confere um caráter de classe às mudanças ocorridas no período, com
aumento da vulnerabilidade dos mais pobres. Isto é, é maior a proporção de ‘nem
nem’ em 2010 entre as famílias que, em termos relativos, tinham menores
condições materiais de dar respaldo a eles”, diz o artigo.
Os números na América Latina
Os números
do relatório da OIT mostram que a situação de crescimento econômico com emprego
registrada nos últimos anos na América Latina não foi suficiente para melhorar
o emprego dos jovens, que continuam enfrentando um cenário pouco otimista no
qual persistem o desemprego e a informalidade. Na conclusão do documento, a
organização cita que, com esse cenário, “não é casual que os jovens sejam
defensores dos protestos de rua quando suas vidas estão marcadas pelo desalento
e a frustração por causa da falta de oportunidades”.
Em todos os
países pesquisados, as mulheres são maioria entre os jovens da “geração nem
nem”. Na América Latina elas representam 92% desse grupo. Ainda nos países
latino-americanos, aproximadamente 25% desses jovens (5,25 milhões) buscam trabalho,
mas não conseguem outros 16,5 milhões não trabalham, nem buscam emprego, e
cerca de 12 milhões dedicam-se a afazeres domésticos. Os que não trabalham nem
estudam e nem se dedicam a outras atividades são classificados de “núcleo duro”
e demandam uma atenção especial dos governantes.
Na região,
Honduras é o país que apresenta o maior percentual de jovens “nem nem”, com
27,5%, seguido da Guatemala (25,1%) e El Salvador (24,2%). Os países com menor
percentual são Paraguai (16,9%) e Bolívia (12,7%).
No Brasil, mulheres negras são maioria
Entre os
jovens brasileiros, 19% com idade entre 15 e 24 anos não trabalham nem estudam.
No Brasil, o número de mulheres negras nesse perfil é duas vezes maior que o de
homens, segundo o relatório da OIT. Entre os fatores estão que colaboram para
esse número estão baixo nível social e casos de gravidez na adolescência, o que
faz com que a mulher interrompa os estudos e, também, a atividade profissional.
De maneira
geral, não são apenas os jovens entre 15 e 24 anos que preocupam a OIT. Hoje,
13,1% dos jovens do mundo continuam sem emprego, ou seja, um total de 74,5
milhões de pessoas. Só em 2013, 1 milhão de jovens perderam seus trabalhos e,
com os países ainda em recuperação após a crise
econômica de 2008, a perspectiva de futuro para a “geração nem nem”
ainda não parece otimista.
DIRETO AO PONTO
Jovens
desinteressados em procurar trabalho devido à falta de qualificação profissional
e que não investem na formação porque também não são atraídos pela escola. Esse
é o perfil da chamada “geração nem nem”, que inclui jovens de
Um estudo
divulgado no dia 13 de fevereiro pela OIT (Organização Internacional do
Trabalho) apontou que 21,8 milhões dos jovens latino-americanos se enquadram
nesse perfil. Pesquisa anterior da OIT, já apontava que, de 2007 a 2012, o fenômeno
cresceu em 30 países.
Mas se
engana quem pensa que estamos falando de um fenômeno novo. Esse perfil de
jovens já é tema de estudos da OCDE (Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico) desde o final dos anos 1990. Para cada país o motivo
do crescimento desse perfil de jovens varia. Alguns têm raízes culturais, em
outros são reflexos de cenários econômicos e políticos, ou sociais, como falta
de oportunidades e a chegada de filhos, um dos pontos que faz das mulheres
entre 15 e 24 anos maioria entre os “nem nem”.
O que se
nota hoje é um aumento desse fenômeno. Em Portugal esses jovens são quase meio
milhão. Na Irlanda e na Espanha, 20% dos jovens estão nessa condição, taxa
considerada “preocupante” pela OIT. O Brasil está a um passo de entrar na mesma
categoria, com 19% de jovens com esse perfil, segundo a OIT.
Bibliografia
Juventude, trabalho e
desenvolvimento: elementos para uma agenda de investigação (2013), de Adalberto
Cardoso, da IESP-UERJBibliografia
Juventude em tempos de
incertezas: enfrentando desafios na educação e no trabalho (2013), de Dirce Maria
Falcone Garcia
Juventude e Elos com o Mundo do
Trabalho - Retratos e Desafios (2013), de Alexandre B. Soares
(*) Andréia
Martins é jornalista da Novelo Comunicação
Fonte:
UOL/Notícias 8/3/14.
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