Por Ricardo
Alcântara (*)
Dizem – uns preocupados,
outros satisfeitos – que o candidato Camilo Santana “é muito tímido”. O
“menino” não teria aquele macete de político tradicional que, quando em
campanha, se atira sobre o eleitor como se fosse velho amigo seu.
Pode ser. Mas no curso
dos acontecimentos há certos momentos em que é preciso virar a fotografia de
cabeça para baixo para entender o que se passa. Talvez toda aquela mise-en-scène
de beijar criancinhas tenha perdido parte do seu approach.
Você pode dizer o que lhe
vier à cabeça contra o clã Ferreira Gomes. Ao contrário do que imaginam, não
governam acima da crítica. Mas não se pode negar que a chapa indicada pelo
governador Cid Gomes é o que de melhor ele teria a oferecer.
Camilo Santana é um
quadro de formação progressista, familiar inclusive. Se puxar aos seus, não
degenera. É jovem, alternativa oportuna para um momento em que o sentimento da
sociedade, ainda que disperso e difusamente, anseia por mudanças.
No perfil da chapa – sua
vice é Izolda Cela, que se houve bem na pasta da Educação – é visível a
intenção de faxinar com jovens de ficha limpa os entulhos deixados na calçada
pelos seus patrocinadores (no Brasil, governar é se expor à suspeição).
Sem que o discurso
eleitoral necessariamente encontre a circunstância confortável para explicitar,
o certo é que a indicação de Camilo e Izolda acena com um possível passo
adiante e só o tempo dirá em que medida de verdade. Só o tempo dirá.
Com eles, é possível
imaginar que haveria mais amenidade no trato. Baixos teores de egocentrismo,
menos bravatas – é o que o perfil sugere. Efetivamente, já seria um ganho se
fossem capazes de considerar as restrições com mais tranquilidade.
Neste aspecto, o quadro
se assemelha àquela eleição de Lúcio Alcântara para o governo, quando parte do
eleitorado urbano, refratário ao perfil autoritário do seu patrocinador, Tasso
Jereissati, nele pressentiu um estilo mais transitivo. Deu certo.
Eles não farão uma
travessia fácil: o governo goza de aprovação moderada na avaliação popular. Há
o déficit em Segurança, maior na grande Fortaleza. Há boas obras a
exibir, mas também fatos controversos aguardam por esclarecimentos.
Logo, Camilo e Izolda não
chegariam lá, apesar das suas carinhas de bons moços, por impulso de uma
expectativa de idealidade. Não. Haverá respingos. E caso consigam êxito, ele se
dará mais pela evidenciação de uma vantagem comparativa.
É no contraste com o
instituído oportunismo de seu principal opositor – expressão acabada da
atividade pública como vocação patrimonialista – que um diferencial simbólico
poderá ser afirmado. O jovem eleitorado urbano pode fazer a diferença.
E tem Brasília. Nada é
previsível sem que se saiba de que modo Lula e Dilma agirão no Ceará, onde
disputam candidaturas com expressão na base aliada do governo. O próprio curso
da sucessão presidencial influirá muito no rumo das coisas por aqui.
Desde já, somente uma
certeza: como são candidatos ainda desconhecidos pelos eleitores, caso percam
terão acumulado força para novos experimentos e o troféu da derrota terá um
dono, e não serão Camilo, Izolda ou Lula: goes to Cid Gomes.
(*) Jornalista e
escritor. Publicado In: Pauta Livre.
Pauta Livre
é cão
sem dono. Se gostou, passe adiante.
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