A coluna do
jornalista Alan Neto, publicada em O Povo, de 24/08/2014, trouxe a seguinte
nota: “Comenda maior da Câmara Municipal, infelizmente, Medalha Boticário
Ferreira banalizou-se. A cada semana um escolhido. Feira livre na frente virou
fichinha.”
Não é de hoje que jornalistas
denunciam a forma descabida com que a Câmara Municipal de Fortaleza (CMF)
concede suas honrarias, ao arrepio da Lei Orgânica do Município, que busca
frenar tais outorgas.
A CMF dispõe de um menu honorífíco de cerca de meia centena
de medalhas, placas, comendas etc., com os mais diferentes sabores temáticos,
genéricos ou específicos (e.g. saúde, educação), para aquinhoar os cidadãos,
patrícios ou adventícios, merecedores ou não, desses galardões. No entanto, a
preferência das homenagens recai na Medalha Boticário Ferreira.
A Medalha Boticário Ferreira, proposta originalmente apresentada
pelo intelectual Barros Pinho, foi instituída pela CMF, por meio da Resolução
813/1981, com a intenção de homenagear aqueles que prestaram serviços
relevantes à comunidade de Fortaleza.
A farta distribuição da Medalha
Boticário Ferreira pela CMF é algo que tem incomodado a muitos formadores de opinião, tanto
pela quantidade quanto pela inobservância de critérios justos na concessão, porquanto
a definição dos seus agraciados depende tão somente da vontade de vereadores, ensejando
a que alguns deles façam o uso esbanjado da proposição.
Há, naturalmente, pessoas dignas
e ilustres entre os contemplados, cujos méritos honram mais a própria outorga, porém
esses ficam ofuscados entre tantos outros que foram homenageados por mero
capricho ou por interesses privados de certos edis.
A profusão anárquica dessas láureas implica a banalização da
comenda e desprestígio aos beneficiados meritórios, e, quiçá, incitar o aparecimento
de um suposto Movimento dos Cidadãos Sem a Medalha do Boticário (MCSMB).
Aliás, já houve até a sugestão à CMF de se uma joint
venture com certa famosa perfumaria, para inserir o galardão nos kits promocionais dessa marca de
perfumes, o que tornaria a Medalha do Boticário de aroma agradável.
Para completar o achincalhe, e em desrespeito à memória de
Barros Pinho, só resta um vereador propor a “Medalha do Boticário” ao
Muttley, o cachorro rabugento, da Hanna-Barbera. A solenidade de entrega seria
demais animada, talvez contando com a presença do Dick Vigarista e da doce
Penélope Charmosa.
Marcelo Gurgel Carlos
da Silva
Médico e economista em Fortaleza
* Publicado In: O Povo, Opinião, de 28/08/2014. p.10.
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