Pedro
Henrique Saraiva Leão (*)
Entre
as “wonderdrugs” (drogas maravilhosas) da medicina descobertas desde a Segunda
Guerra, devemos mencionar aquelas para doenças comuns, incapacitantes ou fatais
como a hipertensão arterial, e os contraceptivos. Transcendental foi a evolução
das técnicas cirúrgicas, máxime os transplantes de rins, fígado, e coração (nos
quais o Ceará é líder no Brasil!), e as próteses, mormente a de quadril. Neste
sentido sobressaiu sobremaneira a elucidação do DNA, seu papel genético e nas
respostas corporais às agressões externas.
Os
trabalhos de Charles Dawin (1809-1892) e do monge agostiniano, botânico,
austríaco Johann Gregor Mendel (1822-1884) com suas ervilhas, em 1866,
originaram teoria evolucionista nova, e Mendel justificou cientificamente a
transmissão dos caracteres hereditários. Não explicaram, contudo, as causas das
alterações, ocorridas por herança, que permitiam a sobrevivência das espécies.
Tampouco o estudo dessas pesquisas por geneticistas, posteriormente, conseguiu
esclarece-las em definitivo. O mundo científico teria que esperar até 7 de maio
de 1953, quando o físico Francis Crick e o norte-americano James Watson
descobririam a estrutura do DNA. Esse feito notável proporcionou o Nobel de
Fisiologia em 1962. O DNA (ácido desoxirribonucleico, em inglês, ou ADN em
português) é um composto orgânico condutor das informações genéticas que
coordenam a estruturação e o funcionamento dos seres vivos, e a transmitem suas
características hereditárias.
A
despeito da simplicidade de sua composição química, o DNA é a matéria prima dos
gens, sendo formado principalmente por fosfato e açúcar, este a desoxirribose,
donde seu nome. Para entendimento da estrutura e das funções do DNA os
estudiosos interessados não podem esquecer seus pesquisadores iniciais, no
final da década de 1850. Os mais lembrados são o suíço FredrickMischer, em
Tubingen, Alemanha, e o químico Felix Hoppe – Seyler. Outros nomes a esses se
juntaram como Altmann (+1900), Kossel (+1927), este detentor do Nobel de
Fisiologia (1910); Griffth (1928), Levene e Jacobs, em 1929.
A
lista de cientistas inclui outros de igual importância, mas seria maçante para
os leitores citar-lhes. Tão significativa foi a descoberta do ácido
desoxirribonucleico que seu estudo mais profundo levou ao Projeto do Genoma
Humano, de 1986, o mapeamento de todo o material genético humano, e vem
embasando a engenharia genética. Segundo futurólogos como Ray Kurzweil, esta
ensejaria vida permanente a partir de 2029, até nos transformarmos em homens /
máquinas, ou “cyborgs”, em 2015.
A
propósito, recomendamos ler / reler nossos artigos aqui, de 2013 (27/3 a 6/11).
O desempenho genético de tão revolucionária substância ficou evidenciado também
na genética forense, em medicina legal. Inicialmente indispensável nas disputas
de paternidades, a seguir, mercê das investigações de Sir Alec Jeffreys em
1980, tornou-se essencial na área criminal quando do reconhecimento de delitos,
e na identificação de cadáveres após desastres deformantes. Presente em todas
as células nucleadas, pode ser obtido do sangue, do esperma, cabelo, saliva, da
urina e fezes.
Modernamente
as tecnologias dirimiram dúvidas nomânticas (como o sexo do bebê ainda no
útero) e tornaram obsoletos procedimentos de famosos detetives na literatura.
Quem lembra-se de Auguste Dupin, Sherlock Holmes, do oftalmologista Conan
Doyle, do inspetor Maigret, de Georges Simenon, de G.K. Chesterton. Não mais a
intuição inteligente, a elucubração, mas a frieza e a certeza do laboratório.
(*) Médico, ex-presidente e
atual secretário geral da Academia Cearense de Letras.
Fonte: O Povo, Opinião, de 24/9/2014. p.10.
Nenhum comentário:
Postar um comentário