Há tempos o cigarro está na berlinda. Até os
franceses estão repensando seus hábitos, o que não significa que a nicotina
tenha sido relegada, nem que as grandes empresas tenham se rendido.
Depois da entrada tardia no setor incipiente, mas
promissor, da opção eletrônica, elas agora abrem caminho para se estabelecer no
mercado de alternativos. Recentemente o Times mostrou um centro de pesquisas de
última geração em Neuchatel, na Suíça, onde 300 cientistas da Philip Morris
estão trabalhando para encontrar uma forma mais efetiva de oferecer nicotina ao
consumidor que a versão eletrônica atual.
“Nossos esforços se baseiam em dois objetivos:
desenvolver uma linha de produtos embasada em princípios científicos para
reduzir os riscos e criar substitutos aceitáveis para os fumantes que não
querem ou não podem parar”, explica o Dr. Patrick Picavet.
Os céticos, cientes do histórico enganoso do setor,
duvidam das intenções das companhias – como os rótulos de alerta que algumas
estão colocando, voluntariamente, nas embalagens da versão eletrônica, por
exemplo, muito mais explícitos que os da opção tradicional. O Times registrou a
seguinte explicação no cartucho da Altria: “A nicotina é uma substância
viciante, muito tóxica quando inalada e/ou em contato com a pele”. E o texto
contém mais cento e poucas palavras.
“Quase caí da cadeira quando vi. Será uma nobre
iniciativa em nome do serviço público ou uma estratégia de negócios muito
cínica? Desconfio que seja a segunda opção”, diz o Dr. Robert K. Jackler, da
Escola de Medicina de Stanford na Califórnia.
Alguns observadores suspeitam que as empresas de
cigarro queiram parecer mais responsáveis que os fabricantes menores da versão
eletrônica e se proteger em termos jurídicos. Porém, William Phelps, porta-voz
da Altria, disse que a medida reflete o objetivo de comunicar, aberta e
honestamente, os efeitos do produto na saúde.
E Stephanie Cordisco, presidente da divisão
eletrônica da RJ Reynolds, disse ao Times:
“Estamos aqui para garantir que o setor ficará do
lado certo da história”.
Já a empresa europeia Swedish Match resolveu optar
pela estratégia oposta, pedindo às agências reguladoras norte-americanas que
amenizem os alertas em sua alternativa ao cigarro: o snus, muito semelhante ao
fumo de mascar, mas sem as cusparadas.
Seu consumo é permitido apenas na Suécia, tendo
sido proibido no resto da União Europeia e o fabricante não nega seus riscos –
que são relativos, como alega, mas quer que o alerta reflita esse detalhe. O
Times observou que o aviso atual nas embalagens de snus vendidas nos EUA diz
que ele pode causar câncer de boca e não é uma alternativa segura ao cigarro. A
versão desejada é: “Nenhum produto que contém fumo é seguro, mas este oferece
riscos bem menores à saúde que o cigarro”.
Temendo a acusação de incentivo ao vício – e uma
eventual volta aos cigarros normais – os defensores do setor da saúde pública
não dizem que alguns produtos são menos perigosos que outros, mas os especialistas
afirmam que essa é uma questão importante, principalmente pela tendência do ser
humano a fazer coisas que lhe são prejudiciais.
“Fazemos coisas estranhas mesmo; casamos uns com os
outros, temos religião, fazemos sexo sem fins reprodutivos, gostamos de teatro,
cultura... damos uns goles de vez em quando e apreciamos nossa nicotina. É o
que nos torna humanos”, constata Patrik Hildingsson, executivo da Swedish
Match.
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