quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

CIRO, POR QUE TE CALAS?

Por Ricardo Alcântara (*)
Certas atitudes devem ser tomadas, mesmo quando é sabido seu efeito modesto. Do episódio recente – cancelamento da instalação de uma refinaria no Ceará – nada mais eloquente do que o silencio de alguns personagens. Ciro Gomes é um deles.
Ciro é, dos políticos cearenses, o de maior projeção. Lidera o grupo político de maior expressão no Ceará de hoje. Fizeram eleitos por ele e seus aliados o governador do estado e o prefeito da capital. No Ceará de hoje, se elege para o que bem quiser.
Sua força não decorre apenas do que mantém preso a seus cordões, mas também da boa expectativa que a população tem sobre ele. Uma liderança que resulta mais de seu esforço individual e de um senso de oportunidade que desconhece limites.
Poder. Ele é bom nisso. No Ceará, sua família entrou para o clube em meados da década de 70 e nunca mais se afastou: são 40 anos à sombra frondosa. No plano nacional, correu riscos calculados e deles sempre resultou acumulação de força.
Ciro sempre esteve comprometido com a causa da refinaria que, em plena atividade de sua cadeia produtiva, faria crescer em mais de 30% o PIB cearense. Cancelada a obra, cala-se a liderança estadual de maior peso e popularidade. Por que?
É sabido: um dos gargalos de produtividade da Petrobras está no número insuficiente de refinarias. E, ainda: a descentralização das unidades de refino ampliaria em muito a contribuição da empresa, estatal, ao desenvolvimento equilibrado do país.
Pois Ciro, que nunca economizou gramática para defender o que lhe convém, não fez, até este momento, nenhuma menção ao episódio. Se concorda, ou pelo menos compreende, as razões do governo federal, tenha a coragem de nos pedir paciência.
Mas não. Age como se a coisa não fosse com ele. Mas é: foi para eleger os seus (e os dela) que a presidente Dilma assegurou a obra em palanque, reiterando Lula. E os investimentos feitos pelo estado antes e durante o governo de seu irmão? Nada.
Que se dê, de barato, a omissão de seu irmão: Cid Gomes é ministro da Educação. Suas responsabilidades institucionais tornariam onerosa a confissão de seu desagrado. Discordo, por desproporção, do argumento, mas é real sua dificuldade.
Mas, e o Ciro? Seus desafetos aproveitam a injustificável omissão para acusá-lo de pagar com silêncio pelos proventos polpudos de seu novo emprego na CSN. Teriam colocado em sua boca (dizem) as coisas que tornam dóceis os críticos mais ferozes.
O fato é que desde 1982, quando pela primeira vez elegemos um governador pelo voto direto, nunca houvera tamanha demonstração de subalternidade das forças políticas estaduais às imposições discriminatórias dos que operam em Brasília.
Conclusão: se o Ceará não tem prestígio, seus caciques passam bem, obrigado!
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.
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