Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Uma das principais
características da espécie humana, talvez a mais marcante, é o dom da
linguagem; o comando de sons articulados que permite a transmissão de opiniões
e anseios entre pessoas, chegando eventualmente ao diálogo.
As baleias, os golfinhos e
os chimpanzés emitem certos sinais, códigos ou sons, em diferentes frequências,
para se comunicarem entre si, mas isto ainda permanece no terreno das
pesquisas.
O chimpanzé consegue
reconhecer a própria imagem no espelho (capacidade que poucos animais
apresentam); também são capazes de aprender certos tipos de linguagens, como a
dos sinais. Apesar desses primatas, há milhões de anos, conseguirem retirar
minhocas do húmus com um graveto e quebrar casca das nozes com pedaços de
pedra, jamais aperfeiçoaram esses instrumentos.
O Homo sapiens (assim nos autointitulamos), originário do continente
africano, ganhou mundo. Adaptamo-nos aos mais diversos climas da Terra.
Inventamos “o aprendizado social” (capacidade de reproduzir comportamento,
artes, engenhos observando informações do seu grupo), que passamos às gerações
sucessivas.
Este conhecimento
cumulativo, intergeracional, foi facilitado pela existência da linguagem e
deve-se, sobretudo, à nossa capacidade de falar. A palavra foi inventada para
contar.
A língua materna, ou língua
nativa, a primeira língua que uma criança aprende, corresponde ao grupo
étnico-linguístico onde foi gerado e nasceu. Excetuando-se o caso em que desde
criança ouviram outro idioma, tornando-se bilíngues e "não podemos viver
das exceções".
Basta atentarmos às
dificuldades linguísticas por que passam os membros da União Europeia, cujos
países falam mais 25 idiomas, afora os dialetos regionais. Não é de estranhar o
número de tradutores contratados para tornar compreensíveis as determinações
dessa União, apesar da Internet constituir-se num facilitador.
Cada idioma tem os seus
idiotismos, frases especiais ou expressões idiomáticas.
A língua materna adentra-se
ao aparelho mental da criança em curto espaço de tempo, dos seis aos oito meses
de vida. Estudos atualizados mostram que nesse curto tempo da vida extrauterina
está mais aberta a janela cerebral para a sonoridade da fala da mãe ou da mãe
substituta. Mesmo naquelas crianças que foram ambientadas em duas línguas,
pode-se perceber sotaque diverso. Tenho dúvida quanto a ser possível alguém
falar um segundo idioma sem de quando em vez dizer uma palavra com entonação do
idioma materno.
Concluo com algumas
perguntas:
- Qual a causa de termos um
único Prêmio Nobel de literatura lusófono?
- Não somos o quinto idioma
mais falado no Mundo?
- Onde estão os nossos
intelectuais, acadêmicos, universidades?
Deveriam estar engajados em
busca de outra coisa que em reformas ortográficas que são achincalhadas, pois,
os países lusófonos mudam a língua portuguesa de acordo com o ambiente onde ela
é falada.
Esqueceram-se de que os
computadores possuem sintaxe, mas não semântica?
(*) Professor Titular da Pediatria
da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União
Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos
(ABRAMES).
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