A
atual estrutura de saúde pública tem sido sustentada por anos praticamente de
forma inalterada. Ao longo da instalação incipiente do Sistema Único de Saúde
foi consolidando-se um plano de assistência “pobre para pobres”, tendo seu
ápice a recém implantação do programa “Mais Médicos”.
De
forma desordenada, gestores de todo o Brasil tentam a todo custo manter a velha
estratégia de saúde da família, apenas com novas roupagens, mas ainda focada no
aumento do volume de produção e no marketing político, sem agregar
definitivamente valor ao paciente.
A
decadente política esquece um principio básico: para construir novos
resultados, é preciso mudar a estratégia. Na verdade, a chamada rede de atenção
à saúde consiste em um emaranhado de serviços fragmentados, onerosos, sem
complementaridade de linhas de cuidado e sistematização.
Em
saúde, tudo que não agrega valor aos pacientes deve ser considerado como
desperdício. É preciso fazer sempre a pergunta: esse processo realmente agrega
valor ao paciente? Se a resposta for não, a operação dentro do processo deve de
imediato ser substituída, corrigida ou eliminada de forma muito honesta e
transparente. Essa simples pergunta, quando bem aplicada, é capaz de realizar
uma intensa transformação dos sistemas de saúde.
É
preciso desconstruir por completo o atual modelo de atendimento da atenção
básica, abandonando a ilusão de velhos clichês e jargões acadêmicos para
apresentar melhorias concretas, mensuráveis, com foco em resultados e, principalmente,
voltados para as necessidades dos pacientes, traduzidos não em números de
cadeia produtiva, mas em qualidade de vida e retorno as atividades funcionais
dos usuários, ou seja, resultados que realmente importem a estes.
Qualquer
melhoria em um sistema de saúde sem uma centralização de todos os serviços
localmente em uma única unidade de gestão como ocorre nos modelos atuais é
árdua e dispendiosa. Sem isso, toda discussão sobre redes de atenção são vãs.
Após
a centralização e o devido realocamento de linhas de cuidado, o segundo passo
seria retirar o foco do volume de produção de atendimento para atuar nas
condições de saúde dos pacientes, agregando cuidados a grupos com necessidade
similares e times de atenção integral.
Consiste
uma hipocrisia velada e histérica afirmar que o foco está no paciente sem a
existência de mensuração dos resultados obtidos das condições de saúde destes.
É preciso ter coragem para substituir o paradigma da produção e demanda
imediata para o manejo das reais necessidades dos usuários do SUS.
Estima-se
que 70-80% da população brasileira dependa exclusivamente do sistema publico de
saúde. O setor carece de ideais inovadoras e de executivos de saúde atuando de
forma profissional, blindando o segmento de interesses particulares de grupos
políticos. Neste campo, querer demonstrar serviço partidário é extremamente
lesivo à população, tanto do ponto de vista orçamentário como de mortalidade.
(*) Médico e mestre em Saúde Pública pela Uece.
Publicado In: O Povo, Jornal do Leitor, de 11/2/15.
p.9.
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