sexta-feira, 10 de abril de 2015

INFERNO


Pedro Henrique Saraiva Leão (*)
Entre o aparecimento do homem e o início de 1800 a população somava 1 bilhão. Pouco mais de 1 século tal contingente alcançou 2 bilhões, em 1920, e em 50 anos duplicou (4 bilhões) em 1970. Acreditam os cientistas que não viveremos outra centúria. Para o geneticista Bertrand Zobrist a grande ameaça é o inexorável aumento populacional para 9 bilhões, em 2050. Para tanto estariam contribuindo a média crescente de idade e a redução dos meios de subsistência, engendrando o colapso apocalíptico.
Aumentando nosso desassossego, o fúnebre prognóstico é esposado pela dra. Elizabeth Sinskey, diretora da OMS. Essa profecia do dr. Zobrist, fã de Dante, alia-se às premonições do famoso economista Thomas Malthus (1766-1834), e do pesquisador norte-americano Ray Kurzweil para 2045, quando a fusão homem/máquina geraria os “cyborgs” (ver meu artigo “2045”, neste canto, em 27/3/2013). Estaria campeando, soberana, a “Saligia”, acrônimo de soberba, luxúria, gula, ira, e acédia (preguiça), os 7 pecados mortais mencionados pelo maior poeta italiano Dante Alighieri (Florença, 1265 – Ravenna, 1321), na sua “Divina Comédia” (1321), profunda visão cristã da temporalidade humana e seu eterno destino.
Para atenuar tamanha catástrofe demográfica, esse suíço trans-humanista cultiva e propõe a liberação de vírus (inferno) para esterilizar uma entre três pessoas. Curiosamente, a multiplicação dos povos motivou para alguns autores a conveniência mesmo da sua morte, neste planeta onde – dizem – já escasseiam lugares para tanta gente. A médica Sienna Brooks, relevante personagem do “Inferno”, de Dan Brown (Anchor Books, New York, maio, 2014) argumentou ser normal a extinção pela superpopulação. Exemplificou com colônias de algas vivendo em tanques, onde reproduzem-se excessivamente cobrindo o sol e evitando o crescimento de nutrientes.
A morte “conveniente” está por igual mencionada nos três livros da suíço-norte-americana Elizabeth Kübler-Ross, notadamente em “Sobre a Morte e o Morrer” (Ed. Edart, Universidade de São Paulo, 1977). Foi ela a criadora da “tanatologia”: estudo da morte, máxime suas implicações psicológicas. Ilustrando históricas hecatombes, cita a peste negra de Florença, no século XIV (1346-1350), quando foi dizimado um quarto dos europeus (25 milhões); nesse livro alude à elevada mortalidade da Aids.
Sugerimos a (re)leitura de minhas considerações aqui publicadas em “Os Impostos e a morte”, de 17/7/2013. Contudo, não adentremos tão movediço terreno, e deixemos que nele só rinhem os sábios. Os 100 cantos da “Commedia” de Dante, posteriormente denominada “La divina Commedia” é o mais relevante poema épico da Idade Média, e revelam sua jornada através do inferno, do purgatório e do paraíso com dois guias, os espíritos de Virgílio e Beatriz Portinari, esta seu primeiro e maior amor. O livro de Dan Brown (mesmo autor do “Código de Da Vinci”) tem aquele tripé necessário para os “bestsellers”: cativantes enredo, personagens, e ideias. Leia-mo-los e descansemos em paz.
(*) Médico, ex-presidente e atual secretário geral da Academia Cearense de Letras.
Fonte: O Povo, Opinião, de 22/2/2015. p.8.

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