(Texto atribuído a Apparício
Torelli, Barão de Itararé, o Brando)
Eu
tinha doze garrafas de uísque na minha adega e minha mulher me disse para
despejar todas na pia, porque se não...
-
Assim seja! Seja feita a vossa vontade, disse eu, humildemente. E comecei a
desempenhar, com religiosa obediência, a minha ingrata tarefa.
Tirei
a rolha da primeira garrafa è despejei o seu conteúdo na pia, com exceção de um
copo, que bebi.
Extraí
a rolha da segunda garrafa e procedi da mesma maneira, com exceção de um copo,
que virei.
Arranquei
a rolha da terceira garrafa e despejei o uísque na pia, com exceção de um copo,
que empinei.
Puxei
a pia da quarta rolha e despejei o copo na garrafa, que bebi.
Apanhei
a quinta rolha da pia, despejei o copo no resto e bebi a garrafa, por exceção.
Agarrei
o copo da sexta pia, puxei o uísque e bebi a garrafa, com exceção da rolha.
Tirei
a rolha seguinte, despejei a pia dentro da garrafa, arrolhei o copo e bebi por
exceção.
Quando
esvaziei todas as garrafas, menos duas, que escondi atrás do banheiro, para
lavar a boca amanhã cedo, resolvi conferir o serviço que tinha feito, de acordo
com as ordens da minha mulher, a quem não gosto de contrariar, pelo mau gênio
que tem.
Segurei
então a casa com uma mão e com a outra contei direitinho as garrafas, rolhas,
copos e pias, que eram exatamente trinta e nove. Quando a casa passou mais uma
vez pela minha frente, aproveitei para recontar tudo e deu noventa e três, o
que confere, já que todas as coisas no momento estão ao contrário.
Para
maior segurança, vou conferir tudo mais uma vez, contando todas as pias,
rolhas, banheiros, copos, casas e garrafas, menos aquelas duas que escondi e
acho que não vão chegar até amanhã, porque estou com uma sede louca ...
Fonte: Estória citada
como extraída do livro “Máximas e Mínimas do
Barão de Itararé”. Rio de Janeiro: Record, 1985. (Coletânea organizada por
Afonso Félix de Sousa).
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