Pedro
Henrique Saraiva Leão (*)
O escritor afeito a opinar nos
mídias de comunicação deve nutrir dois objetivos primordiais: robustecer a
linguagem do leitor, esclarecendo-lhe os porquês dos por ques, enriquecendo-lhe
o vocabulário, nesta geração quase sem palavras. Acima escrevemos “mídia”
(meios) por ser o plural latino neutro de “médium” = meio. Sua outra meta é
transmitir informações de maneira inteligível, de fácil reprodução. Estribado
nos corcéis da tecnologia, o descortino médico vem galopando por trilhas até
então ínvias, imprimindo novas noções de trabalhosa apreensão em tempo hábil,
para um público esponja, ávido de fatos inaugurais. Mas vamos ao que me ocorreu
este mês. Há quase dois séculos (1825) Sir Astley Cooper afirmara que a
ansiedade, a privação, a consternação (“bereavement”) e a frustração podem
debilitar o organismo, tornando-o presa fácil do câncer. E em 1865 Claude
Bernard criou o conceito psicossomático das doenças. Assim, a literatura psicológica
vem ampliando discussões acerca da qualidade de vida nos cancerosos, e como
administrar o estresse mental decorrente, prolongando-lhes – ou tornando
suportável - a sobrevivência. Aliás, enfraquecendo a imunidade, as tensões
psicológicas encurtam a vida desses pacientes, máxime quando pequena, ou
inexistente sua vontade de viver.
As doenças graves têm, além de
inerente patologia, reconhecível dimensão espiritual, às vezes modificadora da
relação médico/paciente. Variam sobremaneira as reações dos pacientes ao
saberem-se portadores de tão pertinaz moléstia, como o câncer é definido quando
se opta por negar-lhe sua natureza. Contudo, alentadas estatísticas norte-americanas
mostram a maioria desses enfermos preferindo saber a verdade. Nesses mesmos levantamentos
são, por igual diversas as opiniões dos médicos, em relação a dizê-la ou não.
Pesquisa realizada entre 444 médicos revelou apenas 3% desses afirmando
comunicá-la sempre, 28% assim agiam geralmente, enquanto 70% nunca, ou
eventualmente. Filio-me àqueles que preferem a franqueza, reconhecendo ser mais
importante saber a quem dizer, e quando não ao paciente, pelo menos a quem
tiver maior ressonância familiar, considerando quando e como informar. Aqui,
franqueza não significa desesperança, mas lealdade ao paciente, incutindo-lhe
confiança e fé na recuperação. O medo maior não é o da morte, mas da dor, do
isolamento, do abandono.
O canceroso não controla sua doença,
mas é senhor do próprio corpo, e atualmente, desfruta de amparo para recusar
tratamentos heroicos. Tais podem ser refutados graças à lei Mário Covas,
vigente em São Paulo desde 1999, e amparada pelo Conselho Federal de Medicina
(2007), com inserção no novo Código de Ética Médica (artigos 24 a 41). Aludidas bem –
vindas disposições legais determinaram o surgimento de especialidade para
integrar a equipe multidisciplinar no tratamento: a psico– oncologia. Esta
denominação refere-se à massa, tumor (“onkos”, em grego). Como fim, a
morte é assunto para o resto da vida. Até lá, os mais interessados poderão
visitá-lo em prévios artigos nossos nesta folha em 30/5 e 25/6/2007, 13/5/2009,
13/10/2010, e 5/1/2011.
(*) Médico,
ex-presidente e atual secretário geral da Academia Cearense de Letras.
Fonte: O Povo,
Opinião, de 25/3/2015. p.8.
Nenhum comentário:
Postar um comentário