Carlile Lavor (*)
“No Brasil, o "grande hospital" continua
como o centro da atividade de saúde”
Na década de 1960,
três evidências científicas mostraram a verdade do ensinamento de Hipócrates
quanto à possibilidade de uma vida longa e mais saudável... se o indivíduo
cuidar da sua saúde:
1- As pesquisas em
Framingham, nos Estados Unidos, mostraram que alguns fatores do estilo de vida,
como atividade física, alimentação e cuidados com a hipertensão são importantes
para a conservação das coronárias;
2-A relação entre o
tabagismo e o câncer de pulmão foi bem demonstrada no acompanhamento
sistemático, por anos seguidos, da quantidade diária de cigarros fumados e o
aparecimento da doença em médicos ingleses;
3-A Suécia, campeã
na saúde das crianças, revelou como a ação conjunta do serviço de saúde e das
famílias reduzia as doenças desse grupo de pessoas.
Novas evidências
foram se somando para o controle do câncer do colo do útero, a redução das
cáries dentais e a promoção da saúde mental.
Nas décadas
anteriores, a ciência desvendara a forma de propagação das grandes epidemias e
a sua prevenção: a vacina anti-variólica, o cuidado com a água e esgotos para
se evitar o cólera; a relação dos ratos e do lixo com a transmissão da peste, e
o papel do mosquito Aedes na febre amarela.
A acumulação destes
conhecimentos serviu de base para o movimento internacional pela promoção da
saúde: a pesquisa médica centralizada no hospital abriu-se para a família e a
comunidade; a saúde passou a ser tratada por toda uma equipe de profissionais;
e a aquisição daqueles novos conhecimentos permitiu que o indivíduo e a
sociedade assumissem grande parte da responsabilidade pela sua saúde.
No Brasil, o
“grande hospital” continua como o centro da atividade de saúde. É neste que se
concentram os profissionais mais qualificados nas 60 especialidades médicas,
bem como a tecnologia e os recursos financeiros. Para o atendimento nos pequenos
e médios hospitais e nas unidades básicas de saúde espalhadas pelo país, se
dirigem os médicos que não completaram a sua formação com a Residência. Faltam
especialistas das áreas básicas (clínica médica, pediatria,
toco-ginecologistas, cirurgiões gerais, anestesiologistas, traumatologistas,
psiquiatras e médicos de família e comunidade).
Para completar a
incapacidade das unidades básicas de atender aos doentes que lhe chegam,
somam-se a deficiência de equipamentos, medicamentos e exames para apoio diagnóstico.
E os doentes, naturalmente, tratam de superlotar o “grande hospital”.
Alguns municípios,
como Tauá, rompem a situação dominante e desenvolvem um moderno sistema de
saúde. O doutor João José, neurologista do HGF, nos mostra que é possível fazer
um atendimento de boa qualidade à grande maioria dos pacientes com AVC, nas
suas próprias regiões, aproveitando os hospitais e tomógrafos existentes.
(*) Médico e ex-secretário de saúde do Ceará. Membro
da Academia Cearense de Medicina.
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