Valerie Scheftel e o avô de Sarah Wildman (Arquivo pessoal/BBC). |
A partir de cartas e pesquisas
Quando Sarah Wildman era criança, adorava ouvir histórias
sobre como seu avô escapou dos nazistas e reconstruiu sua vida nos Estados
Unidos. Mas, já adulta, descobriu que a história não foi tão simples.
Seu avô deixou para trás o amor de sua vida na juventude
- uma médica judia que teve que encontrar uma forma de sobreviver em Berlim
durante o nazismo e que escrevia cartas cada vez mais desesperadas para seu
amor nos EUA.
Sarah chegou à história através de uma foto de seu
falecido avô ainda jovem posando com uma mulher desconhecida. “Perguntei à minha avó quem era a garota na foto. Ela
respondeu: era o verdadeiro amor dele. E saiu do quarto”, conta Sarah.
Em seu novo livro, Paper Love, Sarah tenta descobrir quem
era essa mulher --e o que aconteceu com ela.
Sarah encontrou uma caixa dizendo “cartas de pacientes”.
Mas, dentro, não havia cartas profissionais, e sim centenas de correspondências
de sua vida em Viena e dúzias de cartas da namorada.
Sarah pesquisou em arquivos para reconstituir a vida da
mulher e os momentos em que a vida dela se cruzou com a de seu avô.
Valy --Valerie Scheftel-- havia saído da Tchecoslováquia
e terminado sua graduação em medicina em Viena. Ela foi uma das últimas
pessoas judias a receber o diploma da Escola de Medicina da Universidade de
Viena: quatro dias depois, houve o Anschluss (anexação da Áustria) e todos os
judeus foram expulsos.
Sarah descobriu fotos dos dois posando em frente a um
espelho e de Valy em um local que ela acredita ser uma floresta nas redondezas
da capital austríaca. Nas cartas, ela pergunta se o avô lembra das árvores
neste local.
Na virada do ano de 1939 para 1940, Valy não podia mais
comprar roupas; em 1941, ela não podia mais revender seus sapatos e, em 1942 ou
no inverno de 41, ela não podia mais comprar nenhuma roupa quente.
Nas cartas, Valy descreve as músicas que eles costumavam
cantar juntos e diz que, ao cantá-las, se lembra dele.
“Acho que se trata de
uma lembrança da liberdade. Eu acho que ela o amava, mas também era um jeito de
não passar por esse horror que ocorria, mesmo antes dos campos de concentração.
Ser completamente retirado de sua sociedade”,
conta Sarah.
Sarah conta que, quando era criança, acredita que seu avô
havia fugido de forma relativamente tranquila. Ele levou sua mãe, irmã,
cunhado, sobrinho, mas deixou para trás amigos de escola, meio-irmãos e sua
namorada, por quem tinha estado apaixonado durante quase toda a década de 1930.
“Conseguir escapar,
para ele, não foi necessariamente algo feliz. E nem foi necessariamente o fim
de uma história”, afirma ela.
Fonte: BBC/UOL Notícias, de 15/12/2014.
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