O argumento de que a liderança petista é totalmente diferente de sua base e que o partido traiu seus ideais não se sustenta após um mínimo de reflexão.
O
Partido dos Trabalhadores está no olho do furacão, perdendo cada vez mais
simpatizantes sob uma avalanche de escândalos de corrupção. Alguns já chegam a
falar na possível extinção da sigla, o que parece um tanto prematuro. Outros
surgem para jogar uma boia salvadora e fazer de tudo para separar a cúpula da
base partidária, e com isso inocentar a última e preservar a aura de pureza do
partido e seus ideais. Mas será que a liderança do PT realmente traiu seus
membros?
Não
engulo a tese nem por um segundo. Sou autor de um livro de 2005 chamado
“Estrela cadente”, escrito antes do mensalão, e nele já mostro como a bandeira
ética do PT era apenas marketing: “A principal bandeira do PT sempre foi
a ética. O partido vendia uma imagem de que era diferente dos demais partidos,
envoltos em escândalos de corrupção e acordos espúrios apenas para maior poder
político. Pretendo mostrar que essa bandeira era feita de um pano falso, e não
está apenas esgarçada, mas totalmente destruída pelas traças do poder”.
A
esquerda radical tem uma habilidade incrível de se reinventar após cada desgraça
que produz, e assim preservar sua utopia igualitária. Quando o socialismo se
impôs em diferentes cantos do mundo, e os liberais já alertavam para a iminente
tragédia, as experiências efetivamente trágicas não podiam ser culpa do
socialismo. Era preciso criar o conceito de “socialismo real”, culpar os
ditadores em si, os desvios éticos, tudo, menos a própria utopia.
A
mesma coisa aconteceu recentemente com a Venezuela. Quantos “intelectuais” não
se encantaram com o gorila Chávez e seu “socialismo do século XXI”? Quantos não
vibraram com a “justiça social” que estava por vir? Depois que o resultado
inexorável das práticas socialistas ficou evidente, com mais um rastro de
miséria e escravidão deixado para trás, o problema não podia ser com o próprio
socialismo, mas com os tais desvios das lideranças. O fracasso socialista é
sempre órfão, quando a paternidade não é jogada sobre os ombros dos
capitalistas, numa inversão que só socialistas teriam a cara de pau de fazer.
O
argumento de que a liderança petista é totalmente diferente de sua base e que o
PT traiu seus ideais não se sustenta após um mínimo de reflexão. Ora, que
ideais seriam esses? O PT não é, por acaso, sócio da ditadura cubana no Foro de
São Paulo? Não é aliado dos sequestradores das Farc? Não demonstrou sempre
afinidade ideológica com o regime venezuelano? Então, qual ideal foi traído
pela cúpula?
Quando
José Dirceu e companhia foram condenados e presos, a postura oficial do PT não
foi a de tratá-los como vítimas injustiçadas pelo “sistema burguês”? Quem
permaneceu no partido após o mensalão não estava, portanto, dando seu aval aos
métodos escancarados do partido para se perpetuar no poder? Não eram cúmplices
da quadrilha?
Os
socialistas sempre acharam que seus “nobres fins” justificavam quaisquer meios,
por mais nefastos que fossem. Ora, essa espécie de salvo-conduto para o crime
está no cerne dos problemas atuais do PT, mergulhado nos maiores escândalos de
corrupção que o Brasil já viu. A concentração de amplo poder arbitrário no
Estado, outra velha bandeira do partido, também tem tudo a ver com a situação
atual. Como, então, alegar que a base do partido é uma vítima de sua liderança?
Como
se não bastasse, e como que para ridicularizar a tese de sociólogos e
jornalistas que tentam separar o joio do trigo, a própria base do PT lança um
caderno de teses para seu próximo congresso simplesmente enaltecendo o
comunismo, culpando a “imprensa golpista” pelo lamaçal em que o partido se
encontra hoje. Imprensa legítima, pela ótica bizarra desses petistas, é aquela
formada por blogs bancados por estatais e até dinheiro desviado dos
nossos impostos, como mostra a Operação Lava-Jato. Quem aplaude essa mídia
chapa-branca pode ser vítima da cúpula petista, por acaso?
Os
“salvadores do PT limpo”, ou de seu “passado nobre”, posam como esquerdistas
moderados, e acusam de “demônios” a direita “paranoica” que vive presa na
Guerra Fria e fala em bolivarianismo. Em que mundo esses “moderados” vivem, que
não enxergam o que prega oficialmente o próprio PT?
Não
há nobres ideais no PT, tampouco vítimas inocentes. São todos cúmplices de um
projeto totalitário de poder, que encara a democracia como uma “farsa” para se
manter no poder, que endossa os métodos mais abjetos em nome de um
igualitarismo utópico que mascara a inveja dos medíocres. O problema não está
apenas na cúpula do partido, nem houve traição alguma. O problema é o PT.
(*) Rodrigo Constantino é economista e presidente do Instituto Liberal.
Fonte: Circulando por e-mail (internet).
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