sábado, 31 de outubro de 2015

O BRASIL ANEDÓTICO LXXIV


PROFECIA QUE FALHOU
Assis Cintra - "Mentiras Históricas", pág. 95.
Quando Deodoro da Fonseca, destacado para Mato Grosso pelo governo imperial, regressou ao Rio, estava no poder o gabinete Ouro-Preto, formado a 7 de junho de 89.
Ferido na sua dignidade de militar e de amigo do trono, o velho soldado não parecia surdo, dessa vez, ao apelo dos seus camaradas, que o queriam pôr à frente de um movimento republicano.
A trama transpirou, e foi levada ao conhecimento de Ouro-Preto, que sorriu.
- Movimento republicano? - estranhou.
E com desprezo:
- Os netos dos nossos netos, serão governados pelos netos de Sua Majestade.

A FRASE DE BADARÓ
J.M. de Macedo - "Ano Biográfico", vol. III, pág. 48.
Italiano, embora, de nascimento, Libero Badaró sente-se, ao chegar ao Brasil, atraído pela grande luta que então se travava pela nacionalização do Império nascente. Arrebatado por uma das torrentes de paixões, funda, com outros, em S. Paulo, o Observador Constitucional, que exerce, de pronto, enérgica influência sobre a opinião pública.
Na noite de 30 de novembro de 1830 sai Badaró da residência de um amigo quando, na esquina, é assaltado por dois indivíduos embuçados, os quais o alvejam com tiros de pistolas.
Ferido gravemente, é levado para casa. Cercam-no amigos, discípulos, companheiros. Querem operá-lo, mas ele opõe-se. Médico, sabe que o ferimento é de morte.
Aproxima-se a agonia. Badaró ergue-se, então, em um dos cotovelos, e exclama, como iluminado:
- Morre um liberal, mas não morre a liberdade!

MERCÚRIO PARA TRÊS
Coelho Neto - "A Conquista", pág. 44.
Era no Rio antigo, primeiros dias da República, últimos dias da Monarquia. Entrava Paula Ney no teatro Santana, quando foi abordado por duas mundanas, antigas atrizes, que o arrastaram para uma das mesas vazias afim de que lhes pagasse alguma coisa.
O boêmio não se fez rogado. Sentou-se entre as duas raparigas, e, batendo, forte, com a bengala na mesa de estanho, chamou:
- "Garçon"!... "Garçon"!
E à aproximação do empregado:
- Mercúrio, para três!
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).
Nota do Editor: Com esta postagem, estamos encerrando a transcrição dos causos que compõem a obra o Brasil Anedótico, de Humberto de Campos, publicada em 1927, que usamos nos últimos cinco anos, para marcar o final de cada mês.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva

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