quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

SAÚDE EM COLAPSO?


Por Breitner Gomes Chaves (*)
Sistema Público
Por que vivemos uma crise no sistema de saúde brasileiro? O velho clichê político insiste em afirmar que o problema é financiamento ou má qualidade gestora. Contudo, nosso modelo de sociedade sempre exigirá custos crescentes para manutenção desse sistema, sendo, portando, insustentável no longo prazo. De fato, existe uma incompetência para gerenciar os parcos recursos existentes. Foram anos de gastos sem estudos, sem definições de prioridades com evidências, sendo o principal guia a pasta política em detrimento das necessidades da sociedade. Mas afinal, que modelo doente é esse?
O modelo de saúde nada mais é que o reflexo da sociedade e sofre dos mesmos problemas sistêmicos que a educação e a questão da violência crescente. A base para o problema dos três setores é comum: o desrespeito a vida.
Nessa sociedade, o que é enfatizado é o consumo em detrimento da necessidade, o excesso de conhecimento sem utilidade, os recursos concentrados nas mãos de poucos e a falta de comprometimento ético das relações humanas, sendo os interesses individuais de poucos sempre se sobressaindo às necessidades coletivas.
As escolas viraram locais para “deixar os filhos”; os educadores se transformaram em professores pragmáticos; a saúde, em fútil mercadoria de consumo e o homicídio banal.
É preciso reconstruir tudo com foco no respeito à vida e à dignidade humana. Só fazem sentido escolas que ensinem as crianças a amar a servir ao bem comum, em vez de projetar nas crianças um padrão de sucesso financeiro competitivo e acirrado, o que tem sido causa do crescente número de doenças mentais na vida adulta.
A crise do sistema de saúde pública jamais será resolvida olhando-se apenas para o SUS. Será preciso, antes, a sociedade definir melhor suas prioridades com foco na vida humana. O recurso investido que não agregar valor à vida deve ser considerado desperdício e automaticamente redirecionado para este fim.
Enquanto não compreendermos isso, toda modificação será apenas uma falácia de curto prazo, um circo para ludibriar as expectativas humanas do nosso real problema: a injustiça social a qualquer preço para manter uma sociedade de consumo ativa.
 (*) Médico e mestre em Saúde Pública pela UECE.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 4/01/2016. Opinião. p.11.

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