Por Breitner Gomes Chaves (*)
Sistema Público
Por que vivemos uma crise no sistema de saúde
brasileiro? O velho clichê político insiste em afirmar que o problema é
financiamento ou má qualidade gestora. Contudo, nosso modelo de sociedade
sempre exigirá custos crescentes para manutenção desse sistema, sendo,
portando, insustentável no longo prazo. De fato, existe uma incompetência para
gerenciar os parcos recursos existentes. Foram anos de gastos sem estudos, sem
definições de prioridades com evidências, sendo o principal guia a pasta
política em detrimento das necessidades da sociedade. Mas afinal, que modelo
doente é esse?
O modelo de saúde nada mais é que o reflexo da
sociedade e sofre dos mesmos problemas sistêmicos que a educação e a questão da
violência crescente. A base para o problema dos três setores é comum: o
desrespeito a vida.
Nessa sociedade, o que é enfatizado é o consumo em
detrimento da necessidade, o excesso de conhecimento sem utilidade, os recursos
concentrados nas mãos de poucos e a falta de comprometimento ético das relações
humanas, sendo os interesses individuais de poucos sempre se sobressaindo às
necessidades coletivas.
As escolas viraram locais para “deixar os filhos”;
os educadores se transformaram em professores pragmáticos; a saúde, em fútil
mercadoria de consumo e o homicídio banal.
É preciso reconstruir tudo com foco no respeito à
vida e à dignidade humana. Só fazem sentido escolas que ensinem as crianças a
amar a servir ao bem comum, em vez de projetar nas crianças um padrão de
sucesso financeiro competitivo e acirrado, o que tem sido causa do crescente
número de doenças mentais na vida adulta.
A crise do sistema de saúde pública jamais será
resolvida olhando-se apenas para o SUS. Será preciso, antes, a sociedade
definir melhor suas prioridades com foco na vida humana. O recurso investido
que não agregar valor à vida deve ser considerado desperdício e automaticamente
redirecionado para este fim.
Enquanto não compreendermos isso, toda modificação
será apenas uma falácia de curto prazo, um circo para ludibriar as expectativas
humanas do nosso real problema: a injustiça social a qualquer preço para manter
uma sociedade de consumo ativa.
(*) Médico e mestre em Saúde Pública pela UECE.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 4/01/2016.
Opinião. p.11.
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