Meraldo
Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Burocrata é o funcionário que ajuda a erigir e a manter o labirinto conhecido como burocracia. O
bom burocrata é o funcionário que segue mecanicamente – sem pensar - as normas
impostas pelo regulamento da administração ou ainda o empregado administrativo
que, imbuído da importância do cargo que ocupa, abusa de sua posição e trata o
público como um aborrecimento necessário.
A personalidade burocrática
apresenta um perfil que se caracteriza por um padrão inflexível de
perfeccionismo, ordem, preocupação com detalhes, regras e controle. A maioria
dos estudos, ações e críticas dirigidas à diminuição da burocracia de um país
não leva em conta a personalidade do burocrata, cujas características deveriam
ser estudadas, evitando que aceitemos pacificamente a suposta tradição histórico-cultural de um país,
povo.
Relembro que personalidade é o conjunto das características marcantes de uma
pessoa, é a força ativa que ajuda a determinar o relacionamento entre as
pessoas, baseado em seu padrão de individualidade
pessoal e social
referente ao pensar, sentir e agir.
No caso particular do amanuense/burocrata, sua
personalidade mostra propensão a uma forte correlação entre uma criação
familiar coercitiva e a inclinação às profissões burocráticas. Advirto!
“Propensão não quer dizer certeza”.
O importante a destacar é que essas pessoas, ao invés
de se revoltarem contra os seus constrangedores do passado ou contra a
autoridade opressora do momento, reorientam suas frustrações contra as pessoas
que venham a cair nas malhas do seu acanhado espaço de poder.
Não é à toa que o verbo burocratizar significa: Dar
caráter ou feição burocrática a./ Adquirir hábitos de burocrata; tornar-se burocrata (conferir no dicionário Aurélio).
O certo é que, não poucas vezes, a função burocrática
consiste em nada fazer ou tudo impedir. Se este é efetivamente o papel do
burocrata, devo reconhecer o seu zelo profissional ao preencher de maneira
irrepreensível a sua função de complicar a vida dos cidadãos que venham a cair
nas suas malhas. Tudo bem que, no passado, costumava-se afirmar que Freud
explica tudo, mas no século XXI, Freud não mais explica, ele implica.
Ao ter que ir a uma repartição pública o que mais me
irrita é a frase: ‘xerox somente autenticado’. Juntaram a burocracia cartorial
com o avanço tecnológico, sem levar em conta que o correto seria adotar a
presunção de inocência, que está na Constituição de 1988.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco.
Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE)
e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).
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