quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

XEROX® SOMENTE AUTENTICADO


Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Burocrata é o funcionário que ajuda a erigir e a manter o labirinto conhecido como burocracia. O bom burocrata é o funcionário que segue mecanicamente – sem pensar - as normas impostas pelo regulamento da administração ou ainda o empregado administrativo que, imbuído da importância do cargo que ocupa, abusa de sua posição e trata o público como um aborrecimento necessário.
A personalidade burocrática apresenta um perfil que se caracteriza por um padrão inflexível de perfeccionismo, ordem, preocupação com detalhes, regras e controle. A maioria dos estudos, ações e críticas dirigidas à diminuição da burocracia de um país não leva em conta a personalidade do burocrata, cujas características deveriam ser estudadas, evitando que aceitemos pacificamente a suposta tradição histórico-cultural de um país, povo.
Relembro que personalidade é o conjunto das características marcantes de uma pessoa, é a força ativa que ajuda a determinar o relacionamento entre as pessoas, baseado em seu padrão de individualidade pessoal e social referente ao pensar, sentir e agir.
No caso particular do amanuense/burocrata, sua personalidade mostra propensão a uma forte correlação entre uma criação familiar coercitiva e a inclinação às profissões burocráticas. Advirto! “Propensão não quer dizer certeza”.
O importante a destacar é que essas pessoas, ao invés de se revoltarem contra os seus constrangedores do passado ou contra a autoridade opressora do momento, reorientam suas frustrações contra as pessoas que venham a cair nas malhas do seu acanhado espaço de poder.
Não é à toa que o verbo burocratizar significa: Dar caráter ou feição burocrática a./ Adquirir hábitos de burocrata; tornar-se burocrata (conferir no dicionário Aurélio).
O certo é que, não poucas vezes, a função burocrática consiste em nada fazer ou tudo impedir. Se este é efetivamente o papel do burocrata, devo reconhecer o seu zelo profissional ao preencher de maneira irrepreensível a sua função de complicar a vida dos cidadãos que venham a cair nas suas malhas. Tudo bem que, no passado, costumava-se afirmar que Freud explica tudo, mas no século XXI, Freud não mais explica, ele implica.
Ao ter que ir a uma repartição pública o que mais me irrita é a frase: ‘xerox somente autenticado’. Juntaram a burocracia cartorial com o avanço tecnológico, sem levar em conta que o correto seria adotar a presunção de inocência, que está na Constituição de 1988.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).

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