Por João Soares Neto (*)
A Escócia, parte do Reino Unido, é país bonito, frio e com um
inglês bem peculiar, falado pela gente culta, tomando uísque ou cerveja, e até
pelos comuns mortais. No século 18, não existia energia elétrica, as estradas -
ou caminhos - enlameavam quando das chuvas e petrificavam de gelo nos invernos.
A parca calefação era preocupação individual e sequer havia sido
inventada a máquina de escrever. As folhas de papéis, as canetas, os tinteiros
e os mata-borrões, afora os livros próprios e os de bibliotecas públicas, eram
os únicos recursos de que se serviam os escritores de então.
O escritor múltiplo Adam Smith, filósofo e cientista político,
nasceu por lá nesse tempo e, mesmo assim, neste século 21, ainda é referência
para ser negado ou elogiado. Não há como negar que ele foi estudioso e queria
deixar obras que mostrassem a sua preocupação com a humanidade.
Sua obra capital, publicada em 1776, “Uma
Investigação Sobre a Natureza e a Causa da Riqueza das Nações”
ou, simplesmente, “A Riqueza das Nações” é considerada a
referência basilar do regime capitalista. Essa obra, uma maçaroca de cinco
partes, deveria ser conhecida melhor pelos economistas ortodoxos, heterodoxos,
econometristas e outros que tais. “Conhecida” é distinta de “folheada”.
No meu pensar, Smith possui outra obra que considero mais
importante para os humanos, da qual os economistas fazem parte. “A
Teoria dos Sentimentos Morais” foi escrita em 1759 e trata da
moralidade humana que, segundo ele, depende da relação de simpatia entre um
indivíduo e o restante da sociedade. Ele faz distinção entre simpatia e
“autointeresse”, que tomo a liberdade de traduzir como ganância.
Essa digressão histórica com Adam Smith poderia ser estendida a
Karl Marx e a Friedrich Engels, mas é apenas caminho para se chegar neste
janeiro de 2016.
Esta semana, na cidade de Davos, Suíça, reuniram-se a burocracia
financeira, governos, biliardários e supostas cabeças pensantes do mundo, no
Fórum Econômico Mundial. Reúnem-se e se desentendem cada vez mais, pois falta a
´simpatia´ de que falava Smith. Sairão de lá e nem um país relevante mudará uma
vírgula da sua estratégia. Os outros, que vão lá fazer número, voltam fazendo
declarações à imprensa que, cá para nós, acha interessante visitar essa pequena
e rica cidade suíça, em pleno inverno.
Toda a mídia noticiou na
semana passada que uma organização não governamental, com sede no
Reino Unido, a Oxfam, afirmou que,
neste ano de 2016: “62 pessoas possuem tanto (capital) quanto a metade mais pobre da
população mundial”.
A Oxfam acredita ainda que o patrimônio acumulado por 1% das
pessoas mais ricas do mundo superará, em 2016, o dos 99% restantes. Entrei no site
da Oxfam e descobri que ela tem ramificações em 94 países e possui como
objetivo a luta pela extinção da pobreza e tornar consciente que cada pessoa
deve lutar por seus direitos. Algo assim.
Não sei como foram feitas as contas, se os dados são confiáveis,
mas não há como não enxergar a existência de uma grande parcela mundial pobre,
para não dizer miserável. Essas 62 pessoas, até o final deste ano, poderão ser
donas de 50% de todos os recursos do mundo. Como já foi dito na reunião do ano
passado, na mesma Davos, há uma explosão de desigualdade que entrava o duelo
contra a pobreza mundial. "A escala da desigualdade é chocante”, afirmou a diretora executiva geral da Oxfam,
Winnie Byanyima. Descobriram a pólvora. As armas estão no Oriente Médio.
(*) João Soares Neto é escritor e membro da Academia Cearense de Letras.
Fonte: Publicado no jornal O Estado, em 22/01/2016.
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