Por Tânia Alves – Ombudsman de O Povo.
Uma nota publicada na coluna Lúcio Brasileiro, edição da
quinta-feira passada (23/6), causou incômodo em leitor que se manifestou. No
conteúdo, o colunista, em tom jocoso, se apresentava para receber o título de
doutor honoris causa da Universidade Federal do Ceará (UFC). “Como catedrático
de Bom Tom via Jangadeiro presumo que já posso pretender doutor honoris causa
da UFC” (ver fac-símile).
O usuário classificou de inadequado o comportamento do
colunista. “Ele utiliza o precioso espaço do jornal para pedir medalhas e
condecorações. Ele usa o espaço em benefício próprio. É uso inapropriado do
(espaço) jornal”. Ressaltou ainda que não foi a primeira vez que o jornalista
cobra homenagens. Lembrou que, na época em que Lúcio Alcântara era governador
(2003/2007), o colunista “fez campanha” para receber a Medalha da Abolição. O
assunto, destacou, chegou a ser tema de coluna externa do então ombudsman
Plínio Bortolotti, hoje diretor institucional do O POVO.
A indignação do leitor faz sentido. Há 13 anos, O POVO
publicava a terceira edição do “Guia de Redação e Estilo”, em que estabelece
normas a serem seguidas pelos jornalistas da casa. No capítulo VI – “Normas jornalísticas
do O POVO”, item “Colunas”, entre outras coisas está escrito: “O colunista não
pode utilizar o espaço das colunas para promoção de interesses particulares.
Também deve ficar atento à utilização excessiva de alguns personagens. Nas duas
situações, cabe à direção de Redação alertar o colunista e adotar as medidas
cabíveis para casos reincidentes”. Portanto, não tem razão para um colunismo
social do O POVO fazer esta abordagem. Mesmo que em tom espirituoso, a nota,
com forte interesse particular, funciona como coerção para a UFC, e como um
vexame para o jornal.
O leitor também está correto quando destaca que problema não
é de agora. Ele lembrou, corretamente, que Plínio Bortolotti escreveu parte de
uma coluna externa criticando nota em que o colunista cobrava do governador a
indicação para a Medalha da Abolição. Foi em novembro de 2006. Escreveu Plínio,
para finalizar a escrita: “O colunista não tem o direito de constranger o
governador do Ceará, de forma extremamente deselegante e desrespeitosa, na
tentativa de arrancar-lhe benesses. Coluna não é feudo pessoal, da qual cada
colunista pode dispor como quiser. O POVO tem de zelar pela sua credibilidade,
portanto, a obrigação de conter tais investidas”. O colunista recebeu a medalha
em 2012 por indicação do governador Cid Gomes.
Enviei email para o editor do Núcleo de Conteúdo Social e
Relacionamento, Clóvis Holanda, responsável pelas colunas, com pedido para
destacar as providências a serem tomadas no caso. Não recebi resposta.
Confesso que, quando li a nota da coluna, após ser advertida
pelo leitor, de tão inacreditável, pensei que poderia se tratar de uma
brincadeira. Mas como ser brincadeira se O POVO é uma empresa que trabalha com
notícia? E notícia pressupõe verdade. Citar-se como merecedor de comenda não é
papel para colunista. Uma nota com aquele teor jamais poderia passar pelo crivo
de qualidade do jornal, pois é apenas um constrangedor momento de um jornalista
movido por vaidade, que um dia tende a se extinguir. Aliás, o esnobismo não deveria
ter prioridade sobre as muitas histórias de interesse público que o colunista,
por sua longa caminhada no jornalismo, adquiriu e pode contar naquele espaço.
Fonte:
O POVO, de 26/06/2016. Coluna do Ombudsman.
p.11
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