Idealizada pelo médico
sanitarista Oswaldo Cruz (1872- 1917), a Brigada Mata–Mosquitos, era formada
por grupos de funcionários do Serviço Sanitário que visitavam as moradias e
exigiam das pessoas a eliminação das poças d’água e dos recipientes que
acumulavam a água da chuva, objetivando dessa forma acabar com os focos de
reprodução dos mosquitos transmissores da febre amarela. Em 1963, o Exército
Brasileiro concedeu a denominação de “Batalhão Oswaldo Cruz” ao 1º Batalhão de
Saúde, unidade expedicionária. Em 1969, com a extinção do 1º BS, a 1ª Companhia
de Saúde herdou a denominação. Conferir:
Mata Mosquito não é tampouco nome
de nenhum repelente ou campanha contra o mosquito Ædes egygty que está, infelizmente, na moda e na mídia.
Quando assisto o pânico midiático
que está ocorrendo me recordo desses servidores que, como muita coisa boa no
Brasil, desapareceram ou encantaram-se. É importante que as gerações atuais
saibam do motivo que me levou a escrever esta crônica. Em especial, no momento
atual, quando a mídia alardeia epidemias de dengue, chicungunha (que o povo
apelidou de Chico-Cunha) e outras assemelhadas, além do nascimento de bebes
portadores de microcefalia, que muitos pensam ser coisa nova.
Fico pensando na minha rua, nos
meus tempos de criança. Das casas de porta e janela, dos lampiões de gás, dos
vizinhos, das conversas nas cadeiras nas calçadas e das visitas domiciliares
dos guardas da higiene ou mata-mosquito. Bem como das casas que eram marcadas
pelas bandeiras amarelas penduradas nos postigos quando da visita do “homem da
higiene”.
A bandeirinha amarela tremulando
impávida, soprada pela brisa morna da Rua da Alegria no Bairro da Boa Vista
do/no meu Recife.
Lembro-me bem do gancho de arame
envergado que prendia a bandeirinha, noticiando a presença do homem da higiene
naquela casa, para segurança dos moradores.
Mamãe dizia que eles eram
educados. Batiam nas portas e gritavam:
- Ô de casa. Ô de casa: —
Higiene.
Envergavam túnica caqui-Floriano
e calçavam botas de cano longo, naquele tempo denominada de perneiras ou
pederneiras. Lanterna na mão e, pendurado nas costas, um cilindro meio
misterioso cheio de inseticida. Antes de entrar nas casas, limpavam o
solado do calçado quase militar, esfregando a sola da bota na soleira da porta
de entrada. Visita: semanal, quinzenal ou mensal. Variava. De acordo com a
época do ano.
Ao entrar na casa iam direto ver
o banheiro e, com sua lanterna de bolso, (como se chamava antigamente) alumiava
a latrina, a pia, a descarga, a caixas d’água e frestas. Qualquer lugar onde
podia existir qualquer poça d’água. Água parada merecia as devidas atenções,
dando-se borrifadas do liquido misteriosamente embutido naquele estranho
cilindro que portavam às costas. Além disso, suspeitavam de bacias, panelas ou
depósitos de água. Seja da chuva ou de água guardada.
Ao sair, escreviam a data da
visita sanitária num papel colado na parte de dentro da porta do banheiro. O
mata-mosquito era respeitado por todos os moradores, pois ostentava as armas da
república.
Sem saudosismos piegas ainda
escuto a voz da professora louvando os feitos do doutor Oswaldo Cruz. Nome da
escola em que eu estudava.
Hoje com uma profusão de mídia,
pesquisas, campanhas contra o mosquito transmissor do dengue e da zica,
‘epidemia’ de microcefalia e o pânico da população fico perguntando onde foram
parar os guardas da higiene. Desapareceram? Caíram de moda?
Fui ao Google procurar o que
havia sobre Mata-Mosquito, Homem da Higiene e encontrei cerca 645.000 referências.
Poucos mencionavam o Mata-mosquito. A maioria faz propaganda de marcas de
repelentes, sprays e até sofisticados apetrechos eletrônicos úteis (segundo a
propaganda) para o combate aos mosquitos. Depois de muito procurar, encontro um
site que falava do assunto por mim buscado.
Convido-o a visitarem-no.
Principalmente para vocês que são membros das gerações da internet. Certeza
tenho de que vão encontrar muito mais resultados do que... eu. Não necessita
procurar nos livros. É apenas uma sugestão. Basta dar um “cliquezinho”.
OK. Depois nós conversamos. Se
assim o desejarem. Fica o convite.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco.
Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE)
e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).
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