Foto Elie Wiesel GARY CAMERON/Reuters. |
Eliezer “Elie” Wiesel, sobrevivente
dos campos nazis do Holocausto, vencedor do Prémio Nobel da Paz em 1986 e
ativista pelos direitos humanos, morreu este sábado aos 87 anos, de acordo com
o Museu Memorial do Holocausto Yad Vashem, em Israel.
Nascido em 1928 na Roménia, Wiesel
ficou conhecido por manter vivas as suas memórias do Holocausto com o livro Noite,
baseado nas suas experiências enquanto adolescente nos campos de concentração
de Auschwitz, Buna, e Buchenwald, e pelo papel determinante que teve em promover
a educação sobre o Holocausto.
Wiesel “deu expressão à vitória do espírito humano sobre a
crueldade e o mal, através da sua extraordinária personalidade e dos seus
livros fascinantes”, reagiu o primeiro-ministro
israelita, Benjamin Netanyahu, que diz ter sido “abençoado” por ter conhecido o
Nobel da Paz e ter podido aprender “pessoalmente” com ele.
“Na
escuridão do Holocausto, na qual os nossos irmãos e irmãs foram mortos — seis
milhões —, Elie Wiesel foi um raio de luz e um exemplo de humanidade que
acreditava na bondade das pessoas”, acrescentou
Netanyahu, num comunicado divulgado pela imprensa israelita.
Quando lhe atribuiu o Nobel da Paz,
o Comité Norueguês explicou que o Prémio lhe era devido pelo “trabalho em
defesa da paz, da redenção e da dignidade humana”.
O ex-Presidente de Israel Shimon
Peres lembrou alguém que “sobreviveu aos
maiores horrores da humanidade e escolheu dedicar a sua vida a espalhar a
mensagem – ‘nunca mais’”.
Wiesel fez parte do Concelho de
Memorial do Holocausto dos Estados Unidos entre 1980 e 1986 e teve um grande
papel na criação do Museu do Memorial do Holocausto dos Estados Unidos, em
Washington. À entrada do museu, figuram as suas palavras: “Pelos mortos e pelos vivos, temos que passar o testemunho”. Durante a sua vida, usou o seu estatuto de sobrevivente
do Holocausto para falar não só sobre este acontecimento, como para chamar a
atenção sobre outras situações de genocídio em todo o mundo, como em 2006,
quando apareceu ao lado de George Clooney antes de uma reunião do Conselho de
Segurança das Nações Unidas, para alertar sobre a crise humanitária no Darfur.
Natural da cidade de Sieghet, a
família de Wiesel sofreu as consequências da anexação da cidade por parte da
Hungria em 1940, que obrigou todos os judeus a mudarem-se para dois guetos. Em
Maio de 1944, os nazis, com a autorização da Hungria, deportaram a comunidade
judaica de Sieghet para o campo de concentração de Auschwitz-Birkenau. Então
adolescente, Wiesel foi enviado para o campo de trabalhos de Buna Werke com o seu
pai, Shlomo Wiesel, onde foram forçados a trabalhar durante oito meses antes de
ser transferidos para outros campos de concentração perto do final da guerra.
Shlomo Wiesel, subnutrido e com uma
inflamação nos intestinos, morreu depois de ser violentamente agredido por um
soldado alemão, a 29 de Janeiro de 1945. A mãe Sarah e a irmã mais nova Tzipora
também não sobreviveram ao Holocausto, acontecimentos que viria a recordar no
livro de memórias, em 1955.
Depois da guerra, Wiesel e outros
jovens sobreviventes foram enviados para um orfanato em Écouis, França, pela
organização humanitária judaica Oeuvre de Secours aux Enfants, onde viveu
durante muitos anos e se reencontrou com a única família direta que lhe
restava, as irmãs mais velhas Beatrice e Hilda.
Wiesel prosseguiu depois os estudos
em literatura, filosofia e psicologia em Sorbonne, mas nunca chegou a
concluí-los, tornando-se depois jornalista em várias publicações francesas e
israelitas. Visitou o estado de Israel em 1949 como correspondente para o
jornal francês "L’arche". e cobriu, ainda, o julgamento do nazi Adolf
Eichmann para o jornal judaico "The Forward".
Apesar do efeito traumático que o
Holocausto teve na sua vida, Elie Wiesel só começou a escrever sobre as suas
vivências depois de uma conversa em 1954, com o Nobel da Literatura francês,
François Mauriac. A primeira versão do seu livro tinha 800 páginas e tinha como
título E o mundo ficou silencioso, originalmente escrita em iídiche. Wiesel escreveu em 1958,
uma versão mais curta em francês, Nuit, que vendeu até hoje mais de seis milhões de exemplares e
está traduzida em 30 línguas. Noite viria a formar parte de uma trilogia
de memórias sobre o Holocausto, que incluiria Amanhecer e Dia. Foram mais de 40
os livros de ficção e não-ficção escritos por Elie Wiesel.
Em 1955, depois de passar uma
temporada nos EUA a fazer a cobertura da atividade das Nações Unidas,
candidatou-se à residência permanente e tornou-se um cidadão americano em 1963,
a primeira nacionalidade que teve depois de ficar apátrida durante o
Holocausto.
Além da carreira como escritor,
Wiesel foi professor de Estudos Judaicos entre 1972 e 1976 na City University
of New York, ensinou Humanidades e Pensamento Social na Universidade de Yale
entre 1982 e 1983 e foi, novamente, professor de Estudos Judaicos na
Universidade de Columbia entre 1997 e 1999.
Wiesel recebeu inúmeras distinções
ao longo dos anos, incluindo a Medalha Presidencial de Liberdade dos EUA, a
Grand-Croix da Legião de Honra de França e o título de Cavaleiro da Ordem do
Império Britânico. Recebeu, ainda, mais de cem doutorados honorários e o Prix
Medicis de França pelo seu livro “Um mendigo
em Jerusalém”, que descreve a resposta dos
judeus à reunificação de Jerusalém depois da Guerra dos Seis Dias.
Fonte: UOL Notícias, de 2/07/2016.
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