Pedro
Henrique Saraiva Leão (*)
O Ceará tem disso, sim. A expressão “príncipe dos
poetas” corresponde ao poet laureate dos ingleses, e ecoa o Versificator Regis dos priscos ou
prístinos (anteriores) tempos. Um desses foi o celebrado vate (poeta) inglês
Geoffrey Chaucer (+ 1400). É o poeta escolhido pela corte britânica para compor
odes natalícias aos soberanos, e louvar efemérides (datas, fatos) nacionais.
A moda começou em 1619, com um dramaturgo Bem
Jonson. Qual seus sucessores, exerceu tais funções enquanto viveu. Como
príncipe dos poetas fora ornado com guirlanda (coroa) de louros (Laurus nobilis), já ofertada pelos
gregos e romanos aos vencedores de competições. Hábito semelhante perdura na
França, entre os eleitos para a “Académie
Française”.
Assim sagrados, esses bardos (vates) recebiam
anualmente 200 libras esterlinas, e uma barrica com 450 litros de cerveja ou
vinho branco, seco, espanhol (xerez). Naquela Ilha de John Bull a enciclopédia
de Benét (4ª edição, 1996) refere 20 deles, até 1998 (Ted Hughes). Em Portugal,
Luís Vaz de Camões, com Os Lusíadas (1572), havia sido ungido como “Príncipe
dos Poetas” daquele país, e também da Espanha, pelo seu rei Filipe II e I de
Portugal.
Na Alemanha sobressaira o frankfurtense Johan Wolfgang
von Goethe (+ 1832). Luminar no movimento literário Sturm und Drang, antecipou-se ao Romantismo europeu, com O
sofrimento do jovem Werther, o ano da aprendizagem (“Lehrjáhre”) de Wilhelm Meister, e o drama Faust, no qual a
personagem fez pacto com o diabo. À guisa (maneira) de curiosidade, Goethe por
igual curava (transitiva e indiretamente) de botânica, óptica, e arquitetura.
Na França, em 1894, foi homologado Paul Marie
Verlaine. No Brasil, nosso primeiro Príncipe foi o carioca Olavo Brás Martins
dos Guimarães Bilac (1907), sucedido pelo seu conterrâneo Alberto de Oliveira
(1924), o pernambucano Olegário Mariano (1938), os paulistas Guilherme de
Almeida (1959), Menotti Del Picchia (1982), e o atual, Paulo Lébens Bonfim,
desde 1991.
Baseada no modelo inglês, essa designação foi criada
nos EUA em 1985. Auferindo $35.000/ano, o contemplado trabalha pela
conscientização da necessidade da leitura e da escrita poéticas. É ainda
Consultor para Poesia na Biblioteca (37 milhões de livros!) do Congresso Americano.
Entre estes figuraram Robert Lowell, Elizabeth Bishop (morou 10 anos em
Petrópolis, RJ), o pediatra William Carlos Williams, e Robert Frost. Ali a
lista começou com Robert Penn Warren, incluiu o russo Joseph Brodsky (Nobel,
1987), sendo o californiano Juan Felipe Herrera seu 21º e atual detentor.
No Ceará, ratificando típico pioneirismo, exatamente
60 anos antes dos ianques, foi criada a aludida insígnia, em 1985. Seu primeiro
recipiendário (quem recebe) foi o padre Antônio Tomás. A ideia foi do baiano de
Caravelas, dr. Demócrito Rocha, dentista, professor, poeta, jornalista,
fundador e primeiro presidente deste jornal. Àquele religioso sucederam-se Cruz
Filho (1963-1974), Jáder de Carvalho (1974-1985), Artur Eduardo Benevides até
sua despedida em 21/09/2014.
Acerca da bibliografia (referência a textos de um
autor ou sobre ele) consultar o Dicionário Literário Brasileiro, do
fortalezense Raimundo Álvaro de Menezes, 2ª edição, Rio de Janeiro, Livros
Técnicos e Científicos, 1978. Na Roma antiga, havia uma cadeira privativa dos
seus mais altos dignitários, a curul.
No Ceará encontra-se vaga, esperando lá sentar-se, em breve, o novo Príncipe da
Poesia Cearense, mercê de seleção coordenada pela Academia Cearense de Letras.
(*) Professor
Emérito da UFC. Titular das Academias Cearense de Letras, de Medicina e de
Médicos Escritores.
Fonte: O Povo,
Opinião, de 22/6/2016. p.10.
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