quarta-feira, 27 de julho de 2016

PRÍNCIPE DOS POETAS CEARENSES


Pedro Henrique Saraiva Leão (*)
O Ceará tem disso, sim. A expressão “príncipe dos poetas” corresponde ao poet laureate dos ingleses, e ecoa o Versificator Regis dos priscos ou prístinos (anteriores) tempos. Um desses foi o celebrado vate (poeta) inglês Geoffrey Chaucer (+ 1400). É o poeta escolhido pela corte britânica para compor odes natalícias aos soberanos, e louvar efemérides (datas, fatos) nacionais.
A moda começou em 1619, com um dramaturgo Bem Jonson. Qual seus sucessores, exerceu tais funções enquanto viveu. Como príncipe dos poetas fora ornado com guirlanda (coroa) de louros (Laurus nobilis), já ofertada pelos gregos e romanos aos vencedores de competições. Hábito semelhante perdura na França, entre os eleitos para a “Académie Française”.
Assim sagrados, esses bardos (vates) recebiam anualmente 200 libras esterlinas, e uma barrica com 450 litros de cerveja ou vinho branco, seco, espanhol (xerez). Naquela Ilha de John Bull a enciclopédia de Benét (4ª edição, 1996) refere 20 deles, até 1998 (Ted Hughes). Em Portugal, Luís Vaz de Camões, com Os Lusíadas (1572), havia sido ungido como “Príncipe dos Poetas” daquele país, e também da Espanha, pelo seu rei Filipe II e I de Portugal.
Na Alemanha sobressaira o frankfurtense Johan Wolfgang von Goethe (+ 1832). Luminar no movimento literário Sturm und Drang, antecipou-se ao Romantismo europeu, com O sofrimento do jovem Werther, o ano da aprendizagem (“Lehrjáhre”) de Wilhelm Meister, e o drama Faust, no qual a personagem fez pacto com o diabo. À guisa (maneira) de curiosidade, Goethe por igual curava (transitiva e indiretamente) de botânica, óptica, e arquitetura.
Na França, em 1894, foi homologado Paul Marie Verlaine. No Brasil, nosso primeiro Príncipe foi o carioca Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac (1907), sucedido pelo seu conterrâneo Alberto de Oliveira (1924), o pernambucano Olegário Mariano (1938), os paulistas Guilherme de Almeida (1959), Menotti Del Picchia (1982), e o atual, Paulo Lébens Bonfim, desde 1991.
Baseada no modelo inglês, essa designação foi criada nos EUA em 1985. Auferindo $35.000/ano, o contemplado trabalha pela conscientização da necessidade da leitura e da escrita poéticas. É ainda Consultor para Poesia na Biblioteca (37 milhões de livros!) do Congresso Americano. Entre estes figuraram Robert Lowell, Elizabeth Bishop (morou 10 anos em Petrópolis, RJ), o pediatra William Carlos Williams, e Robert Frost. Ali a lista começou com Robert Penn Warren, incluiu o russo Joseph Brodsky (Nobel, 1987), sendo o californiano Juan Felipe Herrera seu 21º e atual detentor.
No Ceará, ratificando típico pioneirismo, exatamente 60 anos antes dos ianques, foi criada a aludida insígnia, em 1985. Seu primeiro recipiendário (quem recebe) foi o padre Antônio Tomás. A ideia foi do baiano de Caravelas, dr. Demócrito Rocha, dentista, professor, poeta, jornalista, fundador e primeiro presidente deste jornal. Àquele religioso sucederam-se Cruz Filho (1963-1974), Jáder de Carvalho (1974-1985), Artur Eduardo Benevides até sua despedida em 21/09/2014.
Acerca da bibliografia (referência a textos de um autor ou sobre ele) consultar o Dicionário Literário Brasileiro, do fortalezense Raimundo Álvaro de Menezes, 2ª edição, Rio de Janeiro, Livros Técnicos e Científicos, 1978. Na Roma antiga, havia uma cadeira privativa dos seus mais altos dignitários, a curul. No Ceará encontra-se vaga, esperando lá sentar-se, em breve, o novo Príncipe da Poesia Cearense, mercê de seleção coordenada pela Academia Cearense de Letras.
 (*) Professor Emérito da UFC. Titular das Academias Cearense de Letras, de Medicina e de Médicos Escritores.
Fonte: O Povo, Opinião, de 22/6/2016. p.10.

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