Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Sei que as gerações mais jovens fazem “brincadeiras”
com tudo e de todos, para logo se acomodar e enxergar os verdadeiros valores da
humanidade. O Papiro de Erbs (documento egípcio descoberto, em 1873, pelo
egiptólogo alemão Georg Erbs escrito há mais de 1500 anos a.C.) já falava na
rebelião da juventude e das suas revoltas contra os costumes da geração
precedente. Apesar de lamentar tais arroubos juvenis, sem eles perderíamos o
direito de ser avós.
Razão possuía Marcel Proust
(1871-1922), quando afirma na novela ‘A Prisioneira’:
Quando passamos de uma certa
idade, a alma da criança que fomos e a alma dos mortos de quem saímos vêm
jogar-nos à mão-cheia suas riquezas e os maus fados, pretendendo cooperar nos
novos sentimentos que experimentamos e, nos quais, apagando-lhes as antigas
efígies, os refundem numa criação original.
Retorno ao título desta crônica, que é sobre a
importância da Literatura e das suas obras consideradas clássicas. Alguns, mais
irônicos, dizem do livro clássico ser um título que se elogia, cita-se com
frequência, mas não se lê. Será isso verdade? Bem sei que a vida moderna não
deixa tempo para a leitura de livros tipo compêndio. Tornamo-nos por demais
práticos.
Leia caro leitor, o que encontrei eu um sítio muito
popular da Internet que deletei sem querer.
Leon Tolstoi: Guerra e Paz. Paris, Ed. Chartreuse. 300 páginas.
Resumo: - Um rapaz não quer ir à guerra por estar apaixonado e por isso Napoleão
invade Moscou. A mocinha casa-se com outro. Fim.
Marcel
Proust: À La Recherche du Temps Perdu. (Em Busca do Tempo Perdido) Paris,
Gallimard. 1922. 1600 páginas.
Resumo: - Um rapaz asmático sofre de insônia porque a mãe não lhe dá um beijinho
de boa-noite. No dia seguinte (pág. 486. vol. I), come um bolo e escreve um
livro. Nessa noite (pág. 1344, vol.VI) tem um ataque.
Gustave
Flaubert: Madame Bovary. 778 páginas
Resumo: - Uma dona de casa insatisfeita põe chifre no marido e transa com o
padeiro, o leiteiro, o carteiro, o homem do boteco, o dono da mercearia e um
vizinho cheio da grana. Depois entra em depressão, envenena-se e morre. Fim
William
Shakespeare: Romeo and Juliet. Londres
Oxford Press. 685 páginas
Resumo: - Dois adolescentes doidinhos se apaixonam, mas as
famílias proíbem o namoro, as duas turmas saem na porrada, uma briga danada,
muita gente se machuca. Então um padre tem uma ideia idiota e os dois morrem
depois de beber veneno, pensando que era sonífero. Fim.
William
Shakespeare: Hamlet. Londres, Oxford
Press. 950 páginas.
Resumo: - Um príncipe com insônia passeia pelas muralhas do castelo, quando o
fantasma do pai lhe diz que foi morto pelo tio que dorme com a mãe, cujo homem
de confiança é o pai da namorada, que, entretanto, suicida-se ao saber que o
príncipe matou o seu pai para se vingar do tio que tinha matado o pai do seu
namorado e dormia com a mãe. O príncipe mata o tio que dorme com a mãe, depois
de falar com uma caveira e morre assassinado pelos irmãos da namorada, a mesma
que era doida e que tinha se suicidado. Fim.
Sófocles:
Édipo-Rei - tragédia grega. Várias edições. 105 páginas.
Resumo: - Maluco tira uma onda, não ouve o que um ceguinho lhe diz e acaba
matando o pai, comendo a mãe e furando os olhos. Por conta disso, séculos
depois, surge a Psicanálise que, enquanto mostra que você vai pelo mesmo
caminho, arranca-lhe os olhos da cara em cada consulta. Fim.
William
Shakespeare: Othelo. 750 páginas.
Resumo: - Um rei
otário, tremendo zé ruela, tem um amigo muito fdp que só pensa em fazê-lo de
bobo. O tal "amigo" não ganha um cargo no governo e resolve se vingar
do rei, convencendo-o de que a rainha está dando pra outro. O zé mané
acredita e mata a rainha. Depois, descobre que não era corno, mas apenas muito
burro por ter acreditado no traíra. Prende o cara e fica chorando sozinho. Fim.
Mas, como não posso fugir dessas minhas ideias
sedimentadas pela experiência, aconselho os jovens a lerem os clássicos, pois é
neles que descobrimos o que há de moderno. A literatura clássica está em
situação mais confortável que os novos títulos, já superaram a barreira do
Tempo, quando foram escritas. São sempre atuais.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco.
Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE)
e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).
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