Hélio Leitão (*)
Religiosa.
Educadora. Advogada criminal. Maria Imêlda Lima Pontes devotou sua existência
ao serviço dos mais pobres dentre os pobres.
Nascida aos 29 de
setembro de 1920, entrega-se à vida religiosa, nas fileiras da Congregação das
Filhas do Sagrado Coração Imaculado de Maria. Exerceu intenso trabalho de
assistência a mulheres privadas de liberdade no Instituto Penal Feminino,
iniciando, a partir de então, seus vínculos com a causa penitenciária.
Madura, aos 41 anos
de idade ingressou na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará.
Torna-se advogada, voltando sua prática profissional à defesa criminal gratuita
de pessoas carentes. Fundou o Departamento Direito e Paz, com a finalidade
precípua de prover assistência social e jurídica à população de baixa renda.
Uma trajetória de
vida de abnegação e renúncia a ser enaltecida, sobretudo nestes tempos de
individualismo e de cultura hedonista, em que o consumismo se transformou na
grande ideologia, como dizia o geógrafo Milton Campos.
Não é por acaso que
ganha o nome “Irmã Imêlda” uma inovadora experiência prisional que acontece no
estado do Ceará. Uma unidade prisional voltada essencialmente a receber presos
vulneráveis, assim entendidas as pessoas com deficiência, cadeirantes, doentes
crônicos, público LGBT (historicamente, aqui e alhures, alvo de violências na
ambiência carcerária).
É mais um esforço
que se faz na linha da humanização do sistema penitenciário cearense, o que
temos feito sem medo de arrostar as incompreensões e explorações políticas que
povoam, nem sempre em boa-fé, o debate público sobre as questões afetas à
segurança pública. Afinal, não percamos de vista que, como bem disse Irmã
Imêlda no título do livro em que narra suas experiências, “o marginalizado
também é gente”. Em meio à avalanche conservadora que engolfa a vida nacional,
não raro o óbvio precisa ser dito. Em alta voz.
Imêlda faleceu em
2013. Acho que está feliz pela homenagem.
(*) Secretário de Estado da Justiça e Cidadania do Ceará.
*
Publicado In: O Povo, de 19/09/2016. Opinião, p.19.
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