Márcia Alcântara
Holanda (*)
O espetáculo de abertura das Paralimpíadas, no dia 7
deste mês no Maracanã, foi um show de beleza, emoção suprema regada a muito
choro, mas também pontuada por sonoras e profusas vaias que completaram a
apoteose de sentimentos, como alegria, superação e descontentamento. A
perfeição do espetáculo imperou, o povo aplaudiu, mas reverberou uníssono e
intensamente com uma estrondosa vaia que expressou seu descontentamento para
com o “status quo” do nosso Brasil: a politicagem incidindo em todas as frentes
dos nossos destinos.
Houve também muitos gritos e, dentre eles, os de “Brasil,
Brasil, Brasil”. O que se quis dizer naquela hora ao presidente e assessores
vaiados nas suas aparições no evento foi: “Parem de ‘leriado’, conchaves, troca
de favores e se comportem como nós cremos que devem se comportar os
responsáveis por dirigirem a nação e, as nossas vidas. Queremos ter saúde,
educação, segurança, direito de ir e vir sem atropelos; enfim, viabilização de
todos os nossos direitos”.
O fato de se receber uma vaia não quer dizer nada além de
que o “vaiante” está querendo ser ouvido a distância e quer dizer que não está
satisfeito com os rumos que alguém ou muitos estão dando a determinado
processo. No nosso caso, as vaias das Paralimpíadas quiseram chamar a atenção
para o rumo que se está dando ao Brasil neste momento: está sem rumo. O roteiro
dessas estrepitosas vaias está claro, e foi dito ao vivo e a cores: “Ei, vocês
aí, empertigados e viciados no poder, mexam-se, e mexam-se rápido! O povo não
aguenta mais esperar, são 12 milhões de desempregados, sem teto, sem escola e
sem saúde!”.
O bom entendedor deveria adorar as vaias, pois os
norteariam na busca de encontrar onde estão as falhas de suas posições e como
solucioná-las a contento, procurando entender e interferindo em cada ponto
nevrálgico desse chamamento. Não dá mais para aguentar o toma-lá-dá-cá das
casas executivas e legislativas do Brasil.
Viva a vaia! Diríamos nós, cearenses, que, com o espírito
de molecagem, revelador de um estado de humor permanentemente em alta, vaiamos
o sol no dia 30 de janeiro de 1942, que, depois de dois dias escondido,
resolveu aparecer, tirando o prazer que os cearenses têm com a chuva ou tempo
lusco fusco (O POVO, 30/1/2012). Fazemos parte, pois, da
cultura da vaia e talvez pudéssemos ter orgulho de dizer: quem de direito tomar
as vaias a sério, que as escute e mude o roteiro dos seus atos. Sigam o roteiro
das vais e provavelmente acertarão no roteiro dos nossos destinos como
brasileiros. Que o sol e o presidente sigam o roteiro das vaias; assim,
poderemos ter dias mais frescos e um povo mais bem cuidado.
(*) Médica
pneumologista; coordenadora do Pulmocenter; membro da Academia
Cearense de Medicina.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 13/9/2016. Opinião. p.11.
Nenhum comentário:
Postar um comentário