DA REDAÇÃO / Marcus
Mesquita/MidiaNews
A ex-advogada Cláudia M, que chegou a dar aula de
Direito Constitucional em uma faculdade de Sorriso (420 Km ao Norte de Cuiabá),
antes de se tornar prostituta em Brasília, foi destaque em uma reportagem
publicada na coluna Rede Social, do Jornal Folha de S. Paulo, nesta terça-feira
(21/02/17).
No ano passado, em entrevista ao MidiaNews, a advogada, que é gaúcha, revelou que tomou a
decisão após se frustrar com a profissão e com relacionamentos amorosos
fracassados.
Na entrevista à Folha de S. Paulo, ela contou que atualmente
atende uma média de dois clientes por dia, cobrando cachê de até R$ 600.
Eu tomei essa decisão depois de sair do
magistério, quando fui demitida sem justa causa, por questão de egos nestas
instituições particulares
Leia abaixo a
reportagem da Folha Online, assinada por Eliane Trindade:
"Em junho do
ano passado, Cláudia M, 34, deu entrada no pedido de licença de sua
inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil. Devolveu a carteira de número
63.467, tirada em 2005, no Rio Grande Sul.
A justificativa
deve ter entrado para os anais da entidade de classe: tornar-se "acompanhante
de luxo".
Para exercer a
nova profissão, uma das mais antigas do mundo, a gaúcha de Passo Fundo foi de
mala, cuia e laptop para Brasília.
E deixou para trás
ainda uma carreira de professora universitária em Mato Grosso.
A mudança radical
foi motivada pela demissão da Faculdade de Sorriso, do grupo Unic, onde dava
aulas de direito constitucional, sua especialidade, em fevereiro de 2016.
Em 11 de abril,
Cláudia iniciava suas atividades como cortesã de luxo na Capital da
República e também um blog onde passou a narrar suas aventuras dentro e fora da
alcova.
"Eu tomei essa decisão depois de sair do magistério, quando fui demitida
sem justa causa, por questão de egos nestas instituições particulares", relata,
sem entrar em detalhes.
A faculdade também
não dá maiores informações sobre a dispensa, nem comenta a guinada de vida de
sua antiga funcionária.
À desilusão
profissional se somava outra com os homens. Cláudia foi casada e vinha de uma
sucessão de relacionamentos fracassados. "Tanto no casamento quanto nos meus namoros, o sexo era o que havia de
mais especial, então resolvi aproveitar só a cereja do bolo."
Na entrevista e
nos posts diários em sua página na internet, a cortesã e blogger passa a ideia
de estar se lambuzando em um banquete sexual iniciado três meses depois da
demissão.
"Seu maior
prazer"
Há pouco mais de
dez meses, a ex-advogada fazia o primeiro programa ao preço de R$ 500 a hora,
reajustada recentemente para R$ 600.
"Descubra que elegância, beleza, finesse, cultura e inteligência podem
coexistir numa única mulher! Cláudia de Marchi, vulgo seu maior prazer!",
apresenta-se ela no site.
A acompanhante de
luxo diz atender uma média de dois clientes por dia. Uma clientela
exclusivamente masculina que, salienta, escolhe a dedo, teclando no WhatsApp do
seu smartphone.
"Se o cara fala errado, eu dispenso." Em um post,
ela expõe a tentativa de aproximação de um "analfabeto funcional".
"Enterecei"?", transcreve ela sobre
erro de português em mensagem recebida de um "interessado"
"Caraca, só se eu estivesse na sarjeta com cinco filhos para criar e
passando fome eu transaria com um homem que, em plena era da informação,
escreve desta forma!"
A gaúcha de 1,69 m
("pornográfica até na altura", brinca), 58 kg, sorriso largo, cabelos
tingidos de louro e levemente ondulados, revela suas formas em fotos com e sem
lingerie. "E nada de Photoshop, viu?", apressa-se em ressaltar.
Sexo e cultura
Ela se coloca no
mercado do sexo pago vendendo o corpo e a bagagem cultural, requisito que diz
exigir também dos homens dispostos a pagar o seu preço.
Levando em conta
tal requisito, os políticos, clientes mais disputados por garotas de programa
em Brasília são até esnobados pela cortesã. "Eu não atendo deputados e senadores. Eles ganham bem, são poderosos, mas
não quer dizer que tenham cultura."
Em seu diário
virtual, narra um episódio desagradável protagonizado por um poderoso no fim do
ano passado.
"Das costas aos braços vergões de tapas: marcas da violência de um
cliente embriagado e ciumento que me agrediu em 22/12. Ah, cliente do ramo
político, 'coincidentemente'."
A ex-advogada diz
que decidiu não processar por agressão o deputado que foi seu cliente assíduo
durante uns quatro meses, temendo a cultura que "culpabiliza a vítima". "Deste marginal, eu não quero
nem falar o nome. Dele, eu só preciso esquecer que esteve comigo seis vezes
anteriormente como lobo em pele de cordeiro."
O caso de
violência é um "fato isoladíssimo", diz ela,
que bloqueou o parlamentar no WhatsApp.
Cláudia garante
que "consegue sobreviver cobrando bem de pessoas bem posicionadas na
sociedade, sem precisar ser cortesã de político".
A julgar pelos
relatos dos encontros, a admiração tem que se estender à performance sexual de
quem paga por horas de prazer ao seu lado, seja em suítes de hotéis de luxo,
seja no quarto do apartamento de classe média onde mora com a mãe na Asa Norte,
no Plano Piloto.
"Até hoje, não fiz nada de que eu não goste. Não gosto de transar com
mulheres, por isso não atendo casais. Faço sexo normal, oral e anal, que adoro.
Com um homem, dois, mas homens. O resto, eu dispenso."
A gaúcha assevera
que seu perfil, digamos, "impositivo" é a chave do seu sucesso. Ela
também atrairia clientes interessados em uma profissional que sente prazer,
literalmente, no que faz. "Eu gosto de sexo.
Tô nessa pelo meu prazer também. Se não tenho tesão, não rola. Gozo sempre e
costumo ter orgasmos múltiplos nos programas pagos."
Ela precisa
satisfazer, obviamente, o próprio bolso. Por isso, considera pechinchar no
preço um pecado capital. Motivo para o potencial cliente ser bloqueado no
WhatsApp sem delongas.
"Sou acompanhante de luxo, não garota de programa. Faço uma distinção em
relação ao próprio nível que tenho e valorizo isso."
Garotas de
programa
A necessidade
financeira, justificativa para muitas mulheres entrarem no mercado de sexo, é
fator de vulnerabilidade, segundo Cláudia. "Tanto a garota de programa quanto a prostituta estão expostas a riscos
maiores ao toparem tudo por dinheiro", constata.
No seu caso, a
grana sempre importa, mas diz ter um colchão financeiro que lhe permite dizer
não. "Quando entrei nessa profissão, eu
tinha algumas economias e a grana do meu FGTS. Se um cliente não quer pagar o
que cobro por hora, de fome eu não vou morrer."
É a deixa para dar
conselhos às jovens que a procuram, como uma brasileira que foi para Miami ser
"escort de luxo".
A principal cilada
seria o consumismo. "Quando o dinheiro é
facilmente aferido e se topa qualquer coisa, psicologicamente a pessoa vai se
sentir mal e aí gastar é uma fuga."
Neste caso,
costuma indagar o que adianta então ganhar tanto dinheiro e gastar na mesma
medida. "É mais digno se tornar uma
manicure, uma empregada doméstica."
Para Cláudia, o
que a distinguiria da concorrência é "não se deixar subjugar", a menos que faça parte do jogo de
sedução. "Muitos clientes me procuram pela
curiosidade de transar com essa mulher empoderada." Razão pela
qual ela estimula a leitura do site antes de cada encontro. "Faz parte da
fantasia."
Alguns clientes
pedem à escritora amadora que sonha em publicar um livro e tem um blog de
crônicas que os deixem de fora do diário virtual. "Em geral, são aqueles de quem eu fico mais íntima. Daí eu omito as
histórias."
Os textos são
pródigos em cenas de sexo oral e sessões selvagens de sexo anal, entremeadas
por citações literárias e dicas de série de tevê cult.
No perfil de
Cláudia no Facebook, emerge também a feminista e a politizada. A cortesã
critica a visão de parte do movimento feminista contrária à prostituição,
entendida como forma de exploração. "É partir do pressuposto de que a mulher entra nessa obrigada. É o que
acontece com menores que são exploradas sexualmente, o que é um crime. Não é o
meu caso, que optei por me tornar uma profissional do sexo."
No espectro
político, ela se coloca à esquerda. Teve um namorado que foi filiado à Rede
Sustentabilidade e posiciona-se contra o impeachment da presidente Dilma
Rousseff, que classifica de "golpe parlamentar".
Considera "absurda" a indicação de Alexandre de Moraes a uma vaga no
Supremo Tribunal Federal. "Eu lamento um dia
ter comprado um livro ele, enquanto estudante de direito."
Comenta também a
postura do presidente Michel Temer. "Ele está colocando seu ministro da Justiça, alguém da cúpula do próprio
governo, no STF, onde é acusado de crimes por delatores da Lava Jato", critica.
"Se Moraes fosse fiel às suas próprias teses, ele
não poderia aceitar a indicação."
Indignação
seletiva
Na atual crise
moral e ética da sociedade brasileira, a cortesã de luxo se diz incomodada com
a "indignação seletiva", tanto na
política quanto na vida.
"Quando me perguntam o que faço, digo que sou acompanhante de luxo.
Sempre vai ter uma dondoca que vai me olhar de cima a baixo indignada."
A indignação
costuma passar rápido, segundo ela, pois estas mesmas mulheres costumam
autorizar os maridos a contratarem os seus serviços numa tentativa de salvar
seus casamentos. "Ou melhor, elas
querem salvar a boa vida que teoricamente ganham dos maridos infiéis."
Em posts
cotidianos, Cláudia costuma cutucar a hipocrisia com frases de escritores e
intelectuais. Nesta seara, tomou emprestado um pensamento de Simone de
Beauvoir: "Entre as prostitutas e as que se
vendem pelo casamento, a única diferença consiste no preço e na duração do
contrato".
Ao expor suas
ideias e se assumir sem meias palavras, a cortesã brasiliense se apresenta sem
máscara para clientes e seguidores nas redes sociais. "Eu não tenho a
menor vergonha de dizer que sou uma profissional do sexo."
Exemplifica com
uma ida recente à Delegacia da Mulher para registrar um boletim de ocorrência
sobre uso indevido de sua imagem em um site de acompanhantes.
O policial
perguntou: "Você se importa se eu colocar
prostituta como profissão?". Ela diz ter respondido não se
incomodar, nem ter se sentido tentada a dar uma "carteirada" de ex-advogada.
Entabulou um papo
com o policial sobre a necessidade de aprovação do Projeto de Lei Gabriela
Leite, em tramitação no Congresso Nacional. Trata-se da legislação que propõe a
legalização da profissão.
No entanto, a
defesa dos direitos das prostitutas não consegue unir sua nova classe, critica
a doutora. "Muitas aceitam ser marginais,
tanto que se omitem, têm vergonha e ajudam a alimentar o preconceito", conclui a
profissional que diz carregar no currículo com o mesmo orgulho os títulos de
advogada, professora e cortesã."
Fonte: midianews, 21/02/2017.