Neste mês de março vivemos o tempo de Quaresma, tempo
favorável de conversão, aprofundamento da fé. Por meio da oração, do jejum e da
caridade, nos preparamos para celebrar o centro de nossa vida cristã, que é o
Mistério Pascal: paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Desde 1964, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB) promove a Campanha da Fraternidade como itinerário evangelizador para o
tempo de Quaresma a partir de uma realidade específica de exclusão. A Igreja ao
propor como tema da Campanha deste ano: “Fraternidade:
biomas brasileiros e defesa da vida”, e o
lema: “Cultivar e guardar a criação” (Gn 2.15), pretende, especialmente à luz do Evangelho,
dar ênfase à diversidade de cada bioma e criar relações respeitosas com a vida
e a cultura dos povos que neles habitam.
Três exercícios espirituais são intensificados neste
período de preparação, e busca de conversão: esmola, oração, jejum. Eles devem
nos levar ao reconhecimento da necessidade da partilha, a evitar que nosso
coração seja prisioneiro dos bens materiais, a nos voltarmos ao Senhor e só a
Ele servir.
Não podemos ficar com esta fé do milagre, esta fé que
acreditamos só quando vemos cura. É tempo de conversão
Jesus nos apresenta algumas máximas, e uma delas é: “não podeis servir a dois senhores” (cf. Lc 16,1-13), e Jesus dá nome a esses dois
senhores: Deus e ao dinheiro.
Jesus não está dizendo que nós teremos que viver sem
dinheiro, sem bens. Pensar assim é ter uma visão muito simplista da palavra de
Deus. O que Nosso Senhor está dizendo é que nós não podemos nos apegar e
colocar nosso coração nos bens materiais, manipular o próximo para proveito
próprio, sermos coniventes com a injustiça.
Não quero aqui fazer apologia à pobreza nem à riqueza. O
que Deus quer de nós é que sejamos solidários, que tenhamos essa disposição de
partilhar o que temos, porque essa desigualdade de poucos terem muito, e muitos
terem nada, não agrada a Deus.
Na Quaresma nos cabe uma reflexão profunda, se, de fato,
temos uma fé amadurecida. Para a grande maioria, se eu perguntar: quem acredita
em Deus? Todos levantam a mão. Mas em que Deus nós acreditamos? Um Deus que não
compromete? Um Deus que não tem nada a ver conosco?
Não podemos ficar com esta fé do milagre, esta fé que
acreditamos só quando vemos cura. É tempo de conversão, de voltar-se ao Senhor.
É uma luta constante, mesmo na vida dos santos; é a busca de servir a um único
Deus, vivo, que requeira esforço. E isso não se dá de uma só vez, mas a cada
dia, renunciando a tudo o que nos afasta de Deus e nos aproximando da luz que é
Jesus Cristo.
(*) Fundador e presidente da
Associação Evangelizar é Preciso e pároco reitor do Santuário Nossa Senhora de
Guadalupe, em Curitiba (PR).
Fonte: O Povo, de 6/3/2017.
Espiritualidade/Opinião. p.17.
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