Médico-Psicoterapeuta
Viva o
amor e pouco importa se é uma utopia.
O que a mente imagina torna-se realidade, pois, em um momento pode-se
viver uma vida. Um instante de felicidade equivale a anos de vida.
Utopia, nome dado por Thomas Morus (humanista inglês, 1477-1535) a uma
ilha imaginária, com um sistema sociopolítico ideal. Amor: forma de interação
psicológica ou psicobiológica entre pessoas, seja por afinidade imanente, seja
por formalidade social; atração afetiva ou física que, devido a certa
afinidade, um ser manifesta por outro; forte afeição por outra pessoa, nascida
de laços de consanguinidade ou de relações sociais; atração baseada no desejo
sexual; afeição e ternura sentida por amantes. Derivação por extensão de sentido:
relação amorosa, aventura amorosa; caso, namoro. (Dicionário Eletrônico
Houaiss, 2011).
Meus leitores irão estranhar o fato de eu escrever sobre Utopia (ilusão,
fantasia, quimera, sonho) em um texto que pretende falar do Amor. Esclareço.
Enquanto a utopia é pura imaginação, o amor acontece. O amor acontece sob o
olhar do presente, do diário, do cotidiano e pode tornar-se necessidade para
que seja usufruído dentro da plenitude existencial do que é: o lugar comum onde
o dia-dia-acontece…
Queiramos ou não, a história caminha rumo à utopia, levando-nos a
esquecer, de quando em vez, do término da vida. Como na metafísica de Spinoza
(1632-1677) — há a Substância, isto é, o ser absolutamente infinito que tem
infinitos atributos. E os sábios, filósofos e até os poetas encontram-se no
dilema de Todos os Tempos, a procurar uma maneira de evitar, de sonhar
acontecer e poder explanar a realidade de um amor-utópico que acontece em uma
sociedade não–utópica, menos perfeita e cada vez mais livre e egoísta.
Portanto, considero o amor entre os amantes uma ilha cercada pelo mesmo
oceano que cerca a Utopia. Viável e Navegável e com Pontes, ligando o
impossível ao possível. Apesar de crer ser o Mundo do futuro um mundo de
tolerância e de aceitação do próximo, fico em dúvida… Sei que as pessoas jamais
poderão aceitar incondicionalmente as diferenças. Creio que nascemos portadores
de determinados preconceitos e desigualdades, sem com isso defender o
fundamentalismo de todos os tipos ou gêneros e muito menos acastelar a
passividade que obrigue a uma concordância total.
Assim como um amor utópico é impossível de acontecer e mesmo assim nele
embarcamos, sabemos que amantes utópicos são impossíveis de sê-lo. O Amor
Utópico, ou a Ilha da Utopia, é uma fantasia que nunca poderá ser concretizada.
E isso faz parte do seu conceito: assim que ela se realize, deixa de ser — uma
utopia. Não sei o motivo desta procura descomedida pelo amor de outra pessoa,
se o amor, para que aconteça, nasce utópico.
Mas, apesar de tudo, escrevo: Ampliar a possibilidade de amar é ampliar
os limites do possível, pois o amar será – sempre – um processo em construção.
Mas para que se amofinar? Ora, “… o amor
acontece na vida. Estavas desprevenida e por acaso eu também”, como cantam os que estão plenos de amor, através da música simples de
Dorival Caymmi (1914-2008)?
“Parece que a utopia está mais próxima de nós do que imaginamos e se as
coisas são inatingíveis… Ora! Não é motivo para não querê-las… Que tristes os
caminhos, se não fora a presença distante das estrelas!” Mario Quintana (1906-1994). O amor vive de recordações, enquanto o
ódio, para continuar existindo, necessita da realidade presente.
Viva o amor e pouco importa se é uma utopia. O que a mente imagina
torna-se realidade, pois, em um momento pode-se viver uma vida. Um instante de
felicidade equivale a anos de vida.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco.
Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE)
e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da
Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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