Uece lembra
greve, disse-me certa vez um vestibulando. De fato, por motivos diversos, têm
ocorrido, com excessiva frequência, longas greves nessa instituição. No
entanto, nem por isso ela sucumbe. Como seu professor há anos, e que já
integrou sua administração superior, posso atestar que se trata de uma das mais
vivas e mais dinâmicas universidades públicas.
A Uece é como nosso semiárido, aparentemente morto, mas
internamente pleno de vida, potente, capaz de ressurgir vigoroso com poucas
chuvas. É assim nossa Universidade, milagrosa, apesar de seus parcos recursos
orçamentários. No sábado 27 de maio, o cearense pôde constatar no Centro de
Eventos sua capacidade de realizar prodígios, ao exibir sua portentosa
Orquestra Sinfônica, acompanhando o talentoso e internacionalmente consagrado
José Carreras. Não sei quem brilhou mais!
Durante o lindo espetáculo, eu pensava: por que nossas autoridades
não prestigiam essa Orquestra em outros grandes eventos, a exemplo do
Réveillon? Com o que se paga a um único artista ou banda de mau gosto, de
música apenas para o corpo, talvez se pudesse pagar os salários dos membros
dessa Orquestra por meses.
E que tal também música para a alma? E como o Brasil
precisa de música para a alma! Que pena ver a música brasileira contaminada de
mau gosto, mau gosto fronteiriço à violência! A música é tão forte que
determina a cultura de um povo, e é por isso que precisa ser elaborada de bom
gosto, também para a alma. A predominante no Brasil de hoje mostra nossas
pobres realidades, inclusive a política.
Com sua magnífica Orquestra Sinfônica, a Uece mostra que
não vive só de greves, e como se pode mudar para melhor o Brasil, mudando, pela
música, o gosto do povo.
(*)
Professor da Universidade Estadual
do Ceará (Uece).
Publicado. In: O Povo, Opinião, de 6/6/17.
p.10.
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