Lucia
Conde de Oliveira
Faltam leitos, trabalhadores, medicamentos. Há longas internações pela espera de procedimentos
O
Sistema Único de Saúde (SUS) é o maior sistema público do mundo e 70% da
população brasileira dependem dele. Tem o melhor sistema de imunização e é
referência em transplante. Entretanto, os governos de Collor até aqui nunca
valorizaram o SUS. Como o povo não tem importância para os políticos, o sistema
que cuida de sua saúde também não tem.
A crise do sistema é percebida na atenção primária,
secundária e terciária. Em qualquer ponto desta grande rede de atenção, o
usuário às vezes não encontra trabalhadores, medicamentos e pode encontrar mau
atendimento. Se precisar de uma consulta ou exame especializado, algumas vezes
fica numa fila virtual, em que não tem noção de quantos também estão na mesma
situação e qual a previsão de atendimento. Se precisar de um tratamento hospitalar
eletivo, desconhece quantos estão esperando.
Já no atendimento de urgência e emergência, a crise é
sentida de forma mais coletiva, pois estão juntos, nos corredores dos hospitais
municipais e estaduais. Ali as condições de atendimento são mais desumanas para
trabalhadores e principalmente para usuários. Faltam leitos, trabalhadores,
medicamentos. Há longas internações pela espera de procedimentos. E ainda, o
que muitos não sabem, que, mesmo com o SUS, existe outra ordem de atendimento,
a do clientelismo e do favor, que funciona desde a escravidão até o presente.
E os trabalhadores do SUS? São vítimas e algozes. São
servidores estatutários, terceirizados, cooperados, recibo por pagamento
autônomo (RPA). Muitos usam a crise do sistema, para esconderem suas dores e
não enxergarem os usuários. Assim, eles desumanizam os usuários e também perdem
sua humanidade.
Essa situação só tende a se agravar depois da EC 95/2016,
que congelou os gastos federais por 20 anos. Só congelaram os gastos com as
políticas sociais, mas aumentaram os privilégios do judiciário, conservaram os
dos parlamentares e o mais grave, as despesas com o pagamento da dívida pública
não foram mexidas. Em média, 45% do orçamento público é destinado a esses
pagamentos.
Estamos inertes assistindo a tudo isso. Vivemos na ilusão
de que não seremos afetados. Se não lutarmos, coletivamente, o grande sonho do
SUS para todos, integral e equânime pode tornar-se um pesadelo para a maioria
daqueles que necessitam e daqueles que ainda se sentem comprometidos com ele.
Precisamos encontrar estratégias de luta para a sua defesa cotidiana.
(*)
Professora adjunta da Uece.
Publicado. In: O
Povo, Opinião, de 3/8/17. p.10.
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