Por João Soares Neto (*)
Muitos homens, como as
crianças, querem uma coisa, mas não as suas consequências.
Ortega y Gasset (1883-1955), filósofo espanhol.
“A política vai mal. A gente de Bernardes é de inépcia rara. No
Clube Militar escolheram uma comissão, cujos membros têm de declarar autênticas
as famosas cartas. Trabalham secretamente como se fossem inquisidores, e os
bobos hão de agitar a opinião, declaram-se satisfeitos e esperam passivamente a
bomba para protestar depois do estouro. A situação resume-se em duas palavras:
bernarda com o rio de lama e dos crocodilos, bernadice com o candidato das
alterosas... Tudo quanto for afastar-me do ano de vergonheiras máximas que há de
ser o do Centenário me seduz.” O texto é do meu patrono (de letras)
João Capistrano de Abreu. Foi escrito em 07 de dezembro de 1921 em carta - Correspondência,
Volume 3, pag. 60 - a seu amigo Sombra (Luís Pena Sombra).
São passados quase 96 anos e parece que o Brasil não mudou
muito. “A política vai mal”, igual a deste final do mês de julho de 2017. Já se
invocavam os militares, como os que hoje acreditam que gente fardada possa
resolver as nossas mazelas desde o Império (lembra de Deodoro e o que deu?),
pois daqui a um lustro, chegaremos ao segundo Centenário do Brasil
independente.
“Os bobos hão de agitar a opinião”, e como se agita, mestre
Capistrano. Sei do seu repúdio ao que acontecia na capital do Brasil de então,
o Rio de Janeiro. Hoje, a capital é outra, feita por gente das “alterosas”. De forma
rápida e cara.
A propósito, houve recentemente rios de lama no interior das
Minas Gerais com o rompimento de barragens. Detalhe: uma pequena porção de
índios - nada contra eles - que morava por perto da área atingida vive folgazona,
pois cada um está recebendo nove salários mínimos por mês. Muito dinheiro para
não fazer nada, acredite.
Hoje, historiógrafo Capistrano, há 627 mil funcionários públicos
civis ativos no país, perto da metade são do Ministério da Educação, mas,
acredite a instrução e o conhecimento do nosso povo, são parcimoniosos. Ainda
há muitos analfabetos e alguns outros apenas sabem garatujar o nome.
Vou dizer um número e não sei como traduzi-lo para o ilustre
mestre. No ano passado, o Brasil gastou 258 bilhões de reais (a nossa moeda de
agora, embora sejamos uma República) com esse amontoado de gente.
Diz a imprensa de hoje, bem diferente do seu tempo em que tudo
saía nos jornais, segundo as conveniências. Agora, os jornais são apenas um dos
meios de comunicações. Alguns, ainda com conveniências. Há outros meios que
foram surgindo e quase todos os viventes dão palpites em quase tudo. Muitos são
inconvenientes, outros são inconsequentes. Salvam-se poucos.
Fico triste em dar notícias assim ao senhor. Na verdade, não sei
sequer se irá lê-las. A propósito, poderia me dar um sinal de que a eternidade
existe?
Do seu afilhado e admirador póstero. João, também.
(*) João Soares Neto é escritor e membro da Academia Cearense de
Letras.
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