Por Affonso Taboza (*)
Não
acredito que, a menos de 20 dias do fim do seu mandato, continue o dr. Janot
com suas implicâncias, tentando parar o Brasil. Tarefa insana, que ele
considera gloriosa. Sua obstinação cega não lhe permite ver o estrago que
algumas de suas flechas de bambu podem fazer no País. Aliás, grande dano já
causaram dias atrás quando ele mirou a ave errada, disparou, mas felizmente
errou. Ah! se ele acerta... coitado do País! Dizem que ainda tem duas flechas à
mão, destinadas ao mesmo alvo. Ainda bem que suas flechas são frágeis, são de
bambu, toscas, tortas.
Caçador de pouca pontaria e alvos errados, entre dezenas
de aves de rapina voando à sua frente – gaviões, abutres, corvos... – só vê
uma, um michel que ele detesta. Quer abater aquele michel que lhe parece gordo
e de farta plumagem. Deseja vê-lo assado no seu espeto de vara. Um troféu para
mostrar à sua tribo, dançando em torno da fogueira. Só que o bicho tem o corpo
fechado e usa de mil artimanhas. Dribla fácil as flechas do doutor.
Lembra-me o tempo de criança quando, aos 11 anos, tentava
matar um bem-te-vi teimoso lá no sítio do meu pai, na Serra da Uruburetama. O
bicho habitava um cedro alto e frondoso a cem metros da casa. Vivia lá,
frescando. E eu, com minha baladeira, atirando. E errando. A cada pedra que lhe
passava perto, a um ou dois palmos, o bicho se esticava e fazia menção de bicá-la,
saltava para o galho vizinho e gritava um canto de desdém. Olhando pra mim! E
eu me irritava. E errava de novo. O michel do dr. Janot faz o mesmo. Só que eu
era uma criança, e o doutor um senhor de cabelos brancos e, supõe-se, muita
experiência. Mas que faz flechas tortas, toscas, de bambu.
Na sua cegueira, o caçador nada enxerga além da carapaça
de vaidade que o envolve. Não o comovem 14 milhões de desempregados e milhares
de empresários falidos, esperando ansiosamente por melhoras na economia. O
homem não descansa. Já atrapalhou muito, deixando o País por quase um mês de
olho no vaivém de deputados sem tino e sem convicções. Ele pouco está ligando.
Do alto do vistoso salário que jorra pontualmente em sua conta, talvez
desdenhe, como Maria Antonieta, de quem está com fome. “Se não têm pão, comam
brioches...”
Defendo a permanência de Temer até a posse do presidente
a ser eleito em 2018. Não que o considere “o Cara”. É que o País não aguenta
trocar de presidente todo ano! E menos ainda, ser governado por presidentes
interinos a cada seis meses!
Quer um conselho, dr. Janot? O senhor acaba de alvejar
três aves más. Flechas retas? Ou tortas? Cuide disso enquanto lhe resta poder,
e esqueça o michel. A economia do País agradece.
(*) Coronel engenheiro reformado do Exército Brasileiro
e membro do Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do Ceará.
Fonte: O Povo, de 30/8/2017.
Opinião. p.10.
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