Apesar de dar nome a um bairro em Fortaleza, linha de ônibus etc., Rodolpho Theóphilo ainda é desconhecido.
Recentemente, fui a Caxias (MA), a convite da
Universidade Estadual, para ministrar palestras sobre divulgação científica.
Lá, alguém me ofereceu cajuína comentando as propriedades da bebida piauiense.
Contestei dizendo que a cajuína era cearense, criada por um grande homem
chamado Rodolpho Theóphilo. Essa falha de informação foi induzida pela canção
“Cajuína”, do Caetano Veloso, em homenagem ao parceiro piauiense Torquato Neto.
A inspiração veio de uma visita ao pai de Torquato, em Teresina, quando lhe foi
oferecida a bebida.
Apesar de dar nome a um bairro em
Fortaleza, linha de ônibus, centro de saúde, medalha etc., Rodolpho Theóphilo
ainda é um ilustre desconhecido da população. Não fosse o livro “O poder e a
peste”, do biógrafo e jornalista Lira Neto, eu também estaria no meio daqueles
que ignoram a história dele. Mas ao ler o livro do Lira Neto, imediatamente me
tornei fã de Rodolpho.
Ele foi o sanitarista que combateu
e venceu a varíola em Fortaleza. Com recursos próprios, produziu a vacina e,
pessoalmente, vacinou milhares de pessoas na capital cearense, mesmo combatido
pelo interventor da época, Nogueira Accioly, que o considerava um embusteiro.
Escreveu muitos livros, incluindo livros científicos e foi membro da Padaria
Espiritual (movimento literário fortalezense do início do século XX) da qual
foi seu presidente.
A Seara da Ciência da UFC
homenageia Theóphilo em memorial criado por Betânia Montenegro que resgata a
importância desse cientista na história do Ceará. A Seara também produziu um
vídeo, disponível no YouTube (http://bit.ly/2B7gJwe) e uma peça de teatro.
Rodolpho também foi incluído em grande painel, ao lado de 20 grandes cientistas
nacionais e internacionais, obra de Valber Benevides. O painel mostra cinco
brasileiros, sendo dois “cearenses”: professor Abreu Matos e Rodolpho. Aqui,
não resisto compará-lo ao grande Oswaldo Cruz, só que Oswaldo era o poder
político: secretário da Saúde do Rio.
Imagino que o leitor tenha
observado as aspas na palavra cearenses. Explico. Rodolpho, filho de pais
cearenses, nasceu em Salvador, mas, com 20 dias de nascido, veio para o Ceará.
Aqui permaneceu até a morte. Ele só soube que havia nascido em Salvador quando
de sua matrícula na Faculdade de Farmácia da Bahia, informado por alguém que
disse ter assistido a seu parto. Foi então que ele retrucou, zangado, com a
famosa frase: “Sou cearense porque quero”.
(*) Diretor da Seara da Ciência e
professor da UFC.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 7/12/2017. Opinião. p.11.
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