sexta-feira, 9 de março de 2018

DELAÇÃO PREMIADA

Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Quando os avanços tecnológicos antecedem as melhorias psicossociais os resultados podem vir a ser imprevisíveis e até danosos. Entendo como psicossocial aquilo que é simultaneamente psíquico e social, tal como uma atividade ou estudo cujo tema principal são os aspectos psicológicos, levando-se em conta também os aspectos sociais da nação, considerados estes distintos dos aspectos políticos (condução e administração da coisa pública), dos aspectos econômicos (aumento e distribuição da riqueza nacional) e dos aspectos militares (salvaguarda dos interesses, da riqueza e dos valores culturais da nação).
Na Medicina, que é a minha praia, os avanços da ciência da informação têm trazido muitos benefícios e também muitos erros diagnósticos e terapêuticos, que vão do engraçado – como o caso de uma paciente que foi registrada no computador, por engano, como diabética, sem sê-lo, e passou fome até o dia da alta; logo ela, que é uma doceira de mão cheia – ao trágico (não aconteceu no Brasil), quando amputaram por engano a perna esquerda de um paciente, quando o membro a ser extirpado deveria ser o inferior direito.
Não sei se é questão de idade, mais vejo com grande preocupação essa ditadura cibernética. Dizia-se, no tempo dos livros de textos médicos: “colocar um equívoco dentro de um livro de texto é fácil… Difícil é retirá-lo”. Agora, na era do computador, deve ser a mesma coisa? Não saberia dizer!
Como simples cidadão e médico, tenho consciência de que a medicina é, antes de tudo, conhecimento humano, mas nada entendo da ciência do Direito. Entretanto, sei que um tributado que cair na malha fina, em sendo um cidadão comum, fica visado por toda vida terrestre ou – para quem nisso acredita – por toda a eternidade. Sei também que a recente descoberta da corrupção decorreu do cruzamento de dados digitais, com a forte ajuda da delação premiada.
E aí desmoronou tudo o que parecia tão arrumadinho desde o tempo do Cabral. Cabral? Refiro-me ao achador do Brasil.
Seja lá como for, mesmo na era do computador e outras parafernálias eletrônicas (ou não), faz-se necessário que alguém rompa o silêncio, mesmo sendo um criminoso. Sem as delações premiadas não seria possível pegar os graúdos. Nos casos de corrupção governamental, a delação premiada é insubstituível.
Continua a ser válido que o Homem (como espécie) ainda é o mais importante fator criativo e corretivo.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Foi um dos primeiros neonatologistas brasileiros.

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