quarta-feira, 14 de março de 2018

JULHO VERMELHO

Pedro Henrique Saraiva Leão (*)
Há 40 anos quase, vimos enfatizando em aulas e publicações a importância do diagnóstico tempestivo (oportuno) do câncer do reto, e dos cólons (intestino grosso): Rev. Fac. Med. Univ. Fed. Ceará, 10(2) 1970; Revista CBC: 18, 1971; Rev. Med., HGF (INPS): 1,1975. Seguiram-se “Câncer nos cólons e no Reto: mesmos e outros aspectos”. Fortaleza, edições UFC, 1984, Coleção Ciência, 2. Colaboração: Lúcia Alcântara Albuquerque; Gothardo Peixoto, Marcelo Gurgel Silva. (Prêmio Estado do Ceará: Estudos Científicos, 1985). “Prevenção do câncer nos cólons” (este In “Ceará Médico”, 6:4,1992). Posteriormente, neste jornal, os artigos “Nem tudo que reluz é ouro” (14/11/1991), “Estigma hereditário” (30/7/2007), “Pelas barbas do Profeta” (04/08/2009, “Será Câncer?” (11/112015), e, novamente “Nem tudo que reluz é ouro” (24/08/2016), 25 anos após aquele homônimo. Em todas essas comunicações sobressaem dois aspectos: a redução do risco de contraí-lo, e sua detecção (diagnóstico) precoce. Tal vigilância sanitária e suas abordagens motivaram a criação da Abrapreci, pela professora Angelita Gama, em São Paulo (05/2004). A dieta é o principal fator predisponente, aconselhando-se a abolição do açúcar refinado, e das gorduras saturadas, como a adoção da dieta mediterrânea, pobre em carne vermelha, e à base de fibras, peixe, e frutas. Ainda visando reduzir sua incidência, importam os exercícios físicos, plus a quimioprevenção. Esta é fornecida pelas vitaminas, pelos sais minerais, e outros nutrientes antioxidantes. Ainda em sentido profilático – e até terapêutico -vacinas vêm surgindo, mirando células que se “escondem” do sistema imunológico. Na descoberta precoce, avulta o toque retal, nos sangramentos intestinais. Este pode constatá-lo em + 80% das lesões até 10cm da margem anal. Impõe-se considerar a hereditariedade (15% - 20%), os pólipos, e as colites crônicas (máxime a Retocolite Ulcerativa, e a Doença de Crohn) com diarreia superior a 15 dias, sobretudo com muco e sangue. Seu diagnóstico implica pesquisar sangue oculto nas fezes, entre os cinquentões, e dos 30-40 anos, por casos semelhantes na família. Seguir-se-á a colonoscopia nos casos positivos, e as eventuais polipectomias (retirada de pólipos) por essa via. Vale interpretar devidamente, e desconfiar da anemia “de causa desconhecida”: pode vir de um câncer intestinal (ceco)! Posteriormente mencionaremos exames de sangue, atuais e testes genômicos (DR-70, GSTM1, e TP 53). No Brasil – talvez mercê da maior longevidade e doutros fatores - o Instituto Nacional do Câncer revelou 34.200 casos novos em 2016, mais entre homens (>50%), após 60 anos de idade. Naqueles dois artigos intitulados “Nem tudo que reluz é ouro” (1991/2016) alertamos para a confusão entre hemorroidas, pois sangrentas, com o câncer do reto, o qual chamativamente sangra também. Aos nossos alunos sempre reiterei “ter câncer de reto quem por aí sangra”, até provado que não. Câncer “camarada”, e de descomplicado diagnóstico, proporciona 50% - 70% de sobrevida de 5 anos após a operação, e até 90% quando operado no seu início. Ocorreu-me há pouco estruturar no Ceará sua prevenção constante, e - a exemplo de eventos análogos - denominá-la, “julho vermelho”, pelas óbvias razões cromáticas. Terá a chancela oficial da Academia Cearense de Medicina, e a participação efetiva da Sociedade Cearense de Colo – Proctologia, notadamente na Faculdade de Medicina da UFC, no HGF, e na Santa Casa da Misericórdia.
(*) Professor Emérito da UFC. Titular das Academias Cearense de Letras, de Medicina e de Médicos Escritores.
Fonte: O Povo, 3/01/2017. Opinião, p.10.

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