Médico-Psicoterapeuta
Emigração é a saída espontânea de pessoas de uma região para outra,
dentro de um mesmo país ou de um país para outro. Conceituado isso, vamos ao
caso emblemático que recentemente envolveu uma moça brasileira na Suíça. Esse
caso atinge de maneira insólita o Brasil, pela atitude intempestiva dos nossos
governantes, respectivamente Ministro do Exterior e Presidente da República, à
qual se acresce a falta de comedimento dos nossos homens de Imprensa.
Entre
tantos outros, aqueles foram médicos judeus portugueses de renome, que muito
fizeram em prol da Medicina. Os seus exílios forçados foram decorrentes do
anti-judaísmo que havia nos ramos científicos e nas humanidades.
No Castelo
de São Miguel, em Guimarães, por exemplo, nasceu o primeiro rei de Portugal: D.
Afonso Henriques. Ele escolheu um judeu português da família Egas Moniz, para
ser seu conselheiro financeiro. Curiosamente, decorridos oitocentos anos, um
descendente daquele Conselheiro Real receberia o Prêmio Nobel de Medicina
(1949). Refiro-me ao Professor Egas Moniz, que jamais negou suas origens
sefárdicas.
A veracidade ou fantasia da agressão da jovem - não importa se
auto-infligida ou realizada por xenófobos - aviva o preconceito contra os
brasileiros que por falta de oportunidade, foram obrigados a migrar. Faltou
humanismo aos nossos Poderes (incluindo o 4º Poder - A Mídia) - "a dor de
uma família deveria e poderia ser mais bem respeitada". Por outro lado,
esse caso chama a atenção para um fenômeno que está ocorrendo em nosso país e
que é hipocritamente escondido da grande maioria de nossa população - um
segredo de polichinelo: a emigração brasileira e a busca de uma nova cidadania,
baseada na ancestralidade original...
Continuo: A partir da década de 60, a emigração de brasileiros (para
fora) do País foi aumentando, agudizou-se em 1980 e daí para diante, somente
aumentou. Observações sociológicas mais aprofundadas apontam de serem muitos
desses emigrantes jovens altamente qualificados e não, como distorcem, serem os
brasileiros pobres o principal item de exportação, destinado à prostituição
feminina ou masculina a domicílio, como se propaga na Espanha, na Itália e
outros países da União Europeia, sem falar nos Estados Unidos.
O Brasil, considerado historicamente como destino para imigrantes passou
a ser exportador de "gente manufaturada" e não exclusivamente de commodities. Tamanha transformação representa um fato social e político que vem sendo
progressivamente reconhecido e denunciado pela imprensa, pelas universidades e,
acredito, até pelos nossos governantes; por estes, de forma muito lenta -
infelizmente. É necessário que ocorram fatos chocantes como esse da Suíça, ou a
morte de um eletricista em Londres, para que o problema seja ventilado, mas
logo esquecido...
Algo deve estar sucedendo com os nossos jovens ou com o nosso país ou com
ambos! Os jovens deixam o Brasil à procura de melhores oportunidades de
trabalho. Os emigrantes brasileiros (na maioria), têm perfil de classe média:
são jovens em início de carreira, principalmente os que ganhavam a vida, por
aqui, como bancários, professores secundários, comerciários, etc.
Nos países de destino (quando conseguem entrar, legal ou ilegalmente),
empregam-se em serviços de baixa qualificação, como lavadores de pratos,
arrumadeiras, caixeiros, domésticos, limpadores, faxineiros. Levam vida
miserável, moram precariamente, alimentam-se pessimamente e poucos são os que
conseguem realmente melhorar de vida. Quem conhece a realidade da maioria
desses jovens envergonha-se de como um país como o nosso aceita ver seus
compatriotas sofrendo tamanha humilhação. Bastaria dizer que o Ministério do
Trabalho e Emprego lançou a cartilha "Brasileiros no Exterior, Informações
Úteis" para apoiar e alertar os trabalhadores brasileiros dos perigos que
correm no exterior.
Segundo pude me informar pela Internet, até o dia 19.07.2007 havia tempo
para enviar sugestões para completar essa cartilha (ou manual) de sobrevivência
para brasileiros: conferir no site (www.mte.gov.br/consultamigrante). Como essa
croniqueta foi escrita no dia 19.02.2009, pena que não possa dar o meu modesto
pitaco e gritar "voltem para casa". Agora mais do que nunca, com a
crise mundial. E concluo com mais uma pergunta: diante da conjuntura econômica
atual, o Brasil poderá dar guarida a esses retornados? Não podemos nos esquecer
de que todos somos brasileiros, independente de cor da pele, raça, religião ou
ideologia. É primordial que lancemos um alerta geral quanto a esse problema!
(*) Professor Titular da Pediatria
da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União
Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos
(ABRAMES). Consultante
Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Foi um dos primeiros
neonatologistas brasileiros.
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