A celebração da Páscoa, hoje, continua tendo o mesmo
sentido: a atualização do mistério do amor que vence o ódio, do perdão que
supera a vingança"
A Páscoa judaico-cristã é uma festa que celebra a
libertação. Nos foi transmitida, de geração em geração, a experiência de fé de
um povo, num Deus (Iahwe) que se revela libertando os escravos do Egito, e
formando, com este punhado de gente, um povo. Em Jesus Cristo, este mesmo Deus
se manifesta com o seu amor misericordioso, libertando-nos do mal e da morte,
revelando que o seu “Reino” se realiza a partir dos últimos, dos deserdados.
A celebração da Páscoa, hoje, continua tendo o mesmo
sentido: a atualização do mistério do amor que vence o ódio, do perdão que
supera a vingança. O justo continua pagando pela desumanidade de quem quer
ganhar o mundo e acha que todos devem estar a serviço do seu interesse e lucro.
Continuam matando gente inocente, prendendo pessoas porque defendem os direitos
humanos, muitas vezes sem prova nenhuma, acusando falsamente as pessoas que
animam os índios, os negros, os favelados para conquistar o seu espaço com
dignidade, nesta sociedade do lucro, que é insuportável e insustentável, como
diz Papa Francisco.
A paixão e morte de Jesus continuam hoje: continuam sim,
nas pessoas que são mortas pelos interesses sem medida e sem razão, pelos que
incarnam a morte e a destruição do planeta. Marielle, Irmã Dorothy, dom Oscar
Romero... e a lista é longa. Até dentro das igrejas há gente que assume esta
ideologia do lucro desenfreado, achando que é defesa do evangelho. Assim eles
criticam de forma violenta o papa Francisco, a CNBB e os Teólogos da
Libertação, semeando a divisão, como fez satanás. Muitas vezes se prefere
atacar a pessoa, acusando-a de coisas falsas, como declara a CPT: “A prisão do
padre Amaro é uma medida que vem satisfazer a sanha dos latifundiários da região
que pretendem de toda forma destruir o trabalho realizado pela CPT, e
desmoralizar os que lutam ao lado dos pequenos para ver garantidos os seus
direitos. E se enquadra no contexto do cenário nacional em que os ruralistas
ditam os rumos da política brasileira. A ele se atribui uma série de crimes:
“lidera uma associação criminosa, com o fim de cometer diversos crimes, tais
como, ameaça à pessoa, esbulho possessório, extorsão, assédio sexual, importuna
ofensa ao pudor, constrangimento ilegal e lavagem de dinheiro.” A diretoria e a
Coordenação Nacional da CPT denunciam este esquema de atacar os que defendem o
direito dos e das camponeses de lutar pela terra e por condições de vida
dignas, os que, como o papa Francisco pede, sabem mergulhar os pés na lama para
estar junto dos que são injustamente espoliados dos seus direitos e da
dignidade de pessoas humanas.
A Páscoa e Maria, no Magnificat: Deus “derruba os
poderosos dos seus tronos, manda embora os ricos sem nada e enche de bens os
famintos”. A luta e a Esperança continuam.
(*) Padre,
Coordenador do CEBI e Professor da Faculdade Católica de Fortaleza.
Fonte: O Povo, de 1/4/2018.
Opinião. p.25.
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