terça-feira, 29 de maio de 2018

CAUTELA SOCIOPÁTICA


Meraldo Zisman (*)

Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta

Escudado na missão de informar, o profissional da mídia luta contra dois fortes inimigos: o poder político e o poder econômico. Como cidadão, observo apreensivo o agravamento de tal situação.
Há muitos anos, a Medicina Psicossomática enfatiza a importância que tem um lar bem estruturado, na formação da cidadania, bem como os perigos advindos da ausência dele. Alguns leigos e certos estudiosos, em um primeiro impulso, acusam a mídia como um dos fatores causais do incremento da violência. Acredito que qualquer meio de comunicação de massa, por maior que seja o avanço tecnológico, não produz acontecimentos: ele, apenas, apresenta, exibe, escreve e transmite o que o público deseja assistir.
Ambientes domésticos deficitários estão presentes em todas as camadas sociais, o que facilita a geração de sociopatas. Sociopata é um indivíduo cuja personalidade se caracteriza pelo desprezo às obrigações sociais, pela falta de consideração para com os sentimentos de outrem, por possuir um egocentrismo exacerbado, que, para satisfazê-lo, não leva em conta os meios e as pessoas a quem possa ferir, destruir, ou matar, em suas macabras empreitadas.
Geralmente, os portadores desses distúrbios apresentam um charme superficial em relação às outras pessoas, e possuem inteligência normal ou acima da média. Em outras palavras, não são considerados doentes mentais e, portanto, são responsáveis pelos atos anti-sociais que praticam.
Durante a formação da personalidade, quando a mãe não é "boa o suficiente", ou a família é disfuncional e não apresenta um ambiente adequado à educação dos filhos, é gerada uma "angústia de separação", posto não ter havido oportunidade de introjetar as figuras materna e paterna, como fonte de segurança, para atender as necessidades vitais, enquanto completamente dependente. Os comportamentos resultantes têm um elevado potencial destrutivo. Neste sentido, urge que a profilaxia desse distúrbio seja focada no Lar, levando-se em conta a psicodinâmica do sentimento de amparo/desamparo, e as etapas de crescimento e desenvolvimento do ser humano.
Advogo prudência, senhores profissionais de Jornalismo! Essa angústia em busca de picos de audiência pode transformá-los em prisioneiros-vítimas-cúmplices da mesma violência que ocorre, e que um bom jornalista-cidadão deve abominar. Seus malefícios superam o direito sagrado de informar!
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Foi um dos primeiros neonatologistas brasileiros.

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