Há cinco anos, a fumaça da chaminé
anunciava no Vaticano um papa que veio do “fim do mundo”. Um dos mais
significativos da longa história do papado. Até seus opositores compartilham
dessa avaliação. O que faz de Francisco tão popular?
Ele surpreende em gesto de proximidade
e humildade. Linguagem acessível, que sensibiliza o mundo, que não chega
através de discursos ou verdades dogmáticas, mas da compaixão e misericórdia.
Enfatiza a ação em detrimento à fala.
Essa porta dos gestos acolhedores
torna-se pressuposto para o anúncio da alegria do Evangelho. Mostra, com ações,
que não veio julgar nem condenar, mas ir ao encontro de todos com abraço
misericordioso.
Francisco vem em contraponto ao
mundo individualista e frio, revelando a proximidade de Deus junto a todos,
sobretudo aqueles que sofrem ou são injustiçados.
Em cinco anos de pontificado,
notam-se mudanças eclesiais importantes: de uma Igreja fria a uma Igreja
simples, acolhedora, que promove a cultura do encontro; de uma Igreja moralista
a uma Igreja que se centra em Cristo e na alegria do Evangelho; de uma Igreja
centrada no pecado a uma Igreja centrada na misericórdia, onde os sacramentos
são para todos os enfermos e não para os “perfeitos”; de uma Igreja centrada
nela mesma, preocupada com o proselitismo a uma Igreja preocupada com o
sofrimento humano, as guerras e a fome; de uma Igreja triste a uma Igreja jovem
e alegre, fermento de uma sociedade transparente; de uma Igreja ONG, clerical,
machista a uma Igreja casa do povo de Deus, “Igreja mãe”.
A maneira de Francisco pensar a fé
e propô-la aos fieis vem dos exercícios espirituais de Santo Inácio de Loyola
(1491 — 1556). A espiritualidade inaciana é apostólica e missionária. Nessa
perspectiva, se entende o convite à “igreja em saída”, aos “hospitais de
campanha” etc. Nas pegadas de Inácio, Francisco nos propõe ir às periferias
geográficas e existenciais e perceber lá o coração pulsante e vivo do
Evangelho. Aqui está sua virada profética.
(*)
Sacerdote; diretor pastoral do Colégio Santo Inácio.
Fonte: O Povo, de 5/5/2018.
Opinião. p.18.
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