Cláudio Ferreira Lima (Arte de Carlus Campos) |
Por Demitri Túlio, colunista de O Povo
Ninguém veio para ser eterno, mas
algumas pessoas poderiam ficar por mais tempo na vida. Pelo menos enquanto
ainda tivessem disposição para brigar por uma Cidade mais coletiva e um espaço
público pleno. Falo de personagens do naipe de Cláudio Ferreira Lima. Pena que
tenha partido, aos 71 anos, com a cabeça e o corpo ainda num frenesi por uma
história melhor para quem nasceu por aqui e na vastidão do Semiárido. Cláudio
Ferreira Lima, do tempo que o conheço, de uns 15 anos para cá, nunca perdeu o
viço da conversa ou da capacidade de proposições práticas e estudadas para se
acabar o fosso que existe entre a favela e a Aldeota, entre o chão batido e o
granito. Ele era a cara de uma das Fortaleza que me deixo tomar o corpo, que
não passo sem seus agrados, que preciso retornar quando quero ir embora para
cuidar da vida em outros braços.
Mas insistia o quixote Cláudio
Ferreira.
Foi um dos poucos economistas a cara
do Sertão e generoso na partilha sem frescuras e hermetismo. Informado até as
tampas, intelectual sofisticado e, provável, um dos maiores leitores do dia a
dia que tive a sorte de receber diálogos. É uma pena que no tempo em que as ideias
mais estão maturadas e as arrogâncias vão se desmilinguindo, o corpo nos
surpreenda com seus inesperados. Mas é dos ciclos da natureza que somos feitos
e esquecemos. Das últimas conversas que troquei com Cláudio pelo zap, perguntei
como estava indo a luta do rochedo contra o câncer de próstata. E me respondeu,
penúltimo, que “andei mal. Feito passarinho baleado com baladeira malvada. Mas
debaixo da cumbuca, voltei ao normal”. Torci por seu triunfo e, egoísta,
desejei que não arredasse do País logo agora. Nesse momento escroto do
conservadorismo em que seres humanos, feito ele, teriam de encarnar um Heitor
troiano.
Tornou-me, um dia, com versos de
Isabel Ferreira Lima. “Essa impressão de que há leveza antes da angústia / há
verso pleno de vida antes da realidade / Há, enfim, esperança / essa teimosa
que me chega quando mais grito”. Perguntei se podia visitá-lo, se não fosse
machucar mais ainda suas dores. Disse-me que seria um prazer, mas eu, adiando
os dias, não fui. A velha desculpa da falta de tempo, uma torpeza dos
não-encontros... Quando soube de sua
travessia, me bateu um vazio. Parecido quando Demócrito Dummar quis ir.
Parecido quando sinto falta de uma floresta cuidada na Cidade, de um parque que
está sumindo na Sabiaguaba, do Sertão, do Castanhão que vou embora dos pássaros
de lá, das chuvas e até do silêncio das estiagens encandeantes... Sentirei saudades suas, camarada! Mas
agradecido pela oportunidade das trocas. Um grande abraço daqui.
Fonte: O Povo, de 8/7/18, Crônica, p.28.
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