Por Jocélio Leal, colunista de O Povo
Cláudio Ferreira Lima era a melhor tradução de uma figura
cada vez mais mitológica no Brasil, o homem público. Desde os primórdios de sua
carreira no Banco do Nordeste, trazia consigo este espírito.
Dele fui assessor no Governo do Ceará há 22 anos. Foi por
um breve período. Preferi deixar a então Secretaria do Planejamento junto com
seu pedido de demissão. Tempos depois voltamos a trabalhar em equipe no Senado.
Exercia dois papeis em minha vida e carreira. Era amigo e fonte.
Cláudio tinha o charme da simplicidade. Era generoso além
da conta. Muitos dos discursos e planos de Governo das últimas décadas no Ceará
tinham sua genética. Era consultado pelos mais diversos matizes políticos. Ao
conhecimento técnico, adicionava um elemento determinante, embora insólito na
burocracia estatal, a sensibilidade.
Não raro, quando secretário, deslocava-se de carro pelo
Interior. Era capaz de parar ao ver alguém com lata d’água na cabeça e tomar
nota da comunidade desassistida. Logo haveria ali uma ação do Projeto São José,
uma cria de sua gestão na Era Tasso. O São José, com projetos de geração de
renda e pequenas obras hídricas, mirava nos mais pobres e foi responsável por
torná-lo um dos mais influentes secretários de então. Ao mesmo tempo, um dos
mais visados.
Quando presidente do Iplance, o Instituto de Planejamento
do Ceará (há 15 anos rebatizado Ipece), já dava ao órgão o sentido estratégico.
Em dedicatória no “Good Government in the tropics” (em tradução livre, Bom
Governo nos trópicos), a professora Judith Tendler o celebrara como “pioneiro
na parceria Ceará-MIT”. Boa parte da Inteligência daquela Era estava mesmo em
Cláudio.
A propósito, em conversa recente, dizia-me do quão
importante seria o Ceará calcular o PIB do quarto setor, o conhecimento.
Há exatos 10 anos, lançou “A Construção do Ceará - temas
de história econômica”. O livro fora o terceiro título da Coleção Anuário do
Ceará. Nele, como bem descreveu Vessilo Monte, em que importe o subtítulo, não
se resume a um conjunto de ensaios sobre a economia cearense em distintos
períodos históricos. Fez uma consistente e crítica reconstrução da história do
Ceará.
O lançamento da nova edição do Anuário, no último dia 21, foi o primeiro no qual não o tivemos sua presença física na festa. Cláudio esteve no discurso e está no expediente, como seu consultor editorial.
O lançamento da nova edição do Anuário, no último dia 21, foi o primeiro no qual não o tivemos sua presença física na festa. Cláudio esteve no discurso e está no expediente, como seu consultor editorial.
Perdi um amigo, mas não a inspiração. Cláudio Ferreira
Lima continuará inspirando.
Fonte: O Povo, de
1/7/2018. Opinião. p.8.
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