Por jornalista Tarcísio Matos,
de O Povo
Saionara ou sai a nora
Querela entre sogra
e nora é, de sempre, eterno desconcerto universal. Armadas até o novelo,
nutrem-se de mútua zanga. Veneno que se revigora a cada encontro, tisnando
ambientes com altercações inúteis. A questão da Saionara com a nora Quinquinha,
particularmente, ganha ares de mais robusta complexidade, porquanto primas e
comadres, vizinhas e banguelas. Por tudo saem no tabefe.
A verminosa
Saionara recebe,
enfim, o resultado dos exames laboratoriais. Entre os itens requeridos, o de
fezes. A sogrona de Quinquinha se arvora de entendedora e lê os resultados. Lá
embaixo, depara-se com bicho novíssimo: “Infestação por Taenia solium”. Busca o doutor, quer saber o que, os perigos disto. Clínico explica:
- Taenia solium é microrganismo
hermafrodita e costuma viver solitariamente. Por esse motivo, a doença que
causa é popularmente chamada de “solitária”.
- Quer dizer que eu
tô com a tal solitária, é doutor? Já sei de quem peguei!
- Eu também, mas
suponho que ele não esteja mais conosco. O bacurim...
Todavia, o cão
atenta e a notícia da solitária de Saionara ganha a vizinhança. Cai nos ouvidos
de Quinquinha como um prêmio. Pior: a nora tem cópia do “inzame”. Cheia de
satisfação pelo azar da outra, lê em voz alta o vetor das dores abdominais,
náuseas, vômitos, cólicas, mal-estar generalizado e caganeira que a desafeta vem
sentindo ultimamente. Dispara:
- Se uma solitária
faz tudo isso, imagina acompanhada! Pois que aquela égua véa tenha logo umas
dez no bucho!!!
A arte de desarmar
alguém
Saionara carregava
uma “doença no nervo labirinto” (labirintite) lascada. Razão por que só dormia
de rede, com a cabeça nos punhos. Rede de casa que, súbito, “abriu-se o chão”
(sumiu). Na verdade, Quinquinha havia pedido emprestada a fianga, pelas mãos do
marido Joel, caçula de Saionara, e nunca devolvera. Cabia, pois, ao moço,
resolver o imbróglio. Mas, como fazê-lo?
Por felicidade,
lembrou-se do primeiro livro de autoajuda de Jair Morais, Meu guaxinim favorito
– resolvendo todas as fuleragens do mundo, cuja lição 821 era exatamente
direcionada a conflito do gênero. Pronto, beleza, tudo resolvido. Em menos de
48 horas, o cacete entre sogra e nora chegava a bom termo. Ah, antes que
esqueçamos, confiram o título da lição 821 da obra em tela:
- Como Desarmar
Alguém Com Uma Rede.
Prestação eleitoral
Se a sogra Saionara
afirmava que “o melhor peixe da água doce é com pouco sal”, a nora
Quinquinha atalhava com pérola que não lhe deixasse atrás: “Não basta conhecer
o povo, é preciso entender a população”. Nesse particular – o povo, uma
votava com gosto de gás em quem a outra nem cogitasse. Uma republicana e outra
democrata; uma de direita, outra radicalmente canhota.
Nesse particular 2:
ao votar nas últimas eleições municipais, tendo acabado de deixar a cabine,
Saionara discute com o mesário só por ser ele antigo conhecido de Quinquinha.
Dirigindo-se ao representante da Justiça Eleitoral, ela pede de volta seu “carnê de votação”.
- A senhora quis
dizer título de eleitor...
- Não, eu disse
carnê! Quê-á-car - nê-ê-nê: carnê!
- ?
- Essa eleição não
foi em duas parcelas, rapaz!!!
Fonte: O POVO, de 26/11/2016.
Coluna “Aos Vivos”, de Tarcísio Matos. p.8.
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