Simone de Souza (Foto: Natinho Rodrigues, em 15/09/2006) |
É fundamental a importância de Simone de Souza para a
historiografia do Ceará. Responsável pelos primeiros livros de História do
Estado, foi atuante pela departamentalização do curso na Universidade Federal
do Ceará (UFC) e formou gerações de historiadores. Simone, que também integrava
o Conselho Editorial do O POVO, morreu na madrugada desta
sexta-feira, 10/8/18, aos 79 anos, em Fortaleza.
Simone estava internada havia duas semanas na Unidade de
Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Regional Unimed Fortaleza. A professora deu
entrada com quadro de infecção urinária e pneumonia. No hospital, bateria de
exames revelou também uma infecção no coração, segundo o sobrinho Marcus César
de Souza.
Nascida em Fortaleza, a historiadora foi cremada ainda na
tarde de ontem, no cemitério Parque da Saudade. Não houve velório, um
desejo dela própria.
"A professora
Simone foi uma pioneira. Quando ninguém estava dando muita atenção a isso no
Brasil, ela se propôs a fazer um livro de História do Ceará. Foi pioneira nessa
área de desenvolver uma geografia local", afirma Regina Ribeiro,
editora executiva das Edições Demócrito Rocha. "Além disso, formou
gerações de professores de história no Ceará".
"Ela era uma mulher
muito forte, decidida. Era bem-humorada, apesar da firmeza. Conheci a
professora quando estava na redação (do jornal), era uma pessoa muito humana", lembra
a jornalista, emocionada. "Ela falava
muito da situação do Brasil. Tinha essa preocupação com o rumo das coisas e uma
risada inconfundível. Acredito que ela era muito mais presente do que a gente
imaginava porque ela era uma mulher muito forte".
O historiador Sebastião Rogério Ponte, com quem ela
trabalhou na Universidade Federal do Ceará (UFC), lembra que Simone "lutou muito pela departamentalização do curso de História
da UFC". Juntos, escreveram os livros Construindo o Ceará - História e
Fortaleza a Criança e a Cidade, ambos pelas edições Demócrito Rocha.
Uma das principais referências em história do Ceará
atualmente, Airton de Farias destaca que o curso era "quase um filho" para a professora, com grande
atuação na estruturação do departamento. "Devemos
muito a ela e a várias outras pessoas que contribuíram. Simone ficou
famosíssima com o livro História do Ceará, no final dos anos 1980, que trouxe
uma nova perspectiva de historiografia. É uma obra que ainda tenho como
referência", diz Airton.
"Comigo, sempre foi
muito gentil apesar de algumas divergências acadêmicas. Uma mulher sincera,
sempre disposta a contribuir com os estudantes. É uma grande perda para a
historiografia e intelectualidade cearense", completa o historiador.
Airton dedicou a edição mais recente do seu livro, História do Ceará, a ela.
Ex-secretário da Cultura de Fortaleza, o professor Evaldo
Lima explica que Simone deu "impulso no
universo da história regional a partir da publicação do livro Uma Nova História
do Ceará, organizado por ela e pela professora Adelaide Gonçalves.”
"Foi a partir dali
que as escolas e universidades despertaram para a história local. A professora
possuía uma erudição extraordinária, tão fascinante quanto sua personalidade.
Era exigente, polêmica na pesquisa historiográfica",
pondera. "É uma perda irreparável para
a nossa memória".
Publicado In: O Povo, Vida & Arte, de 11/8/18. p.4.
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