quarta-feira, 15 de agosto de 2018

REFORMA EDUCACIONAL (Tem Muito Cacique Para Pouco Índio)


Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Existe uma piada dizendo que se você quer fazer Deus rir, basta fazer uma previsão. Ou como diz um dito judaico: O homem planeja e o Deus de Israel acha graça.
É importante relembrar o que escreveu o poeta judeu-russo naturalizado americano Joseph Brodsky (nome de batismo Iosif Aleksandrovich Brodsky), nascido em Leningrado, 24 de maio de 1940 e falecido em Nova Iorque em 28 de janeiro de 1996, detentor do prêmio Nobel de Literatura por seu trabalho de grande envergadura, imbuído de clareza de pensamento e intensidade poética.
Em discurso intitulado ELOGIO AO TÉDIO, feito aos formandos do Dartmouth College, instituição fundada em 1769 e uma das universidades mais conceituadas dos Estados Unidos, dois anos após ganhar o Nobel de Literatura de 1987, o poeta previa ou especulava (esclareço: nos séculos XX e XXI não existem mais profetas, quando muito há especuladores, com todo respeito ao bardo naturalizado americano):
“Neurose e depressão vão entrar no vocabulário de vocês; comprimidos passarão a frequentar suas gavetas. Não há nada essencialmente errado em fazer da própria vida uma busca constante por alternativas, nada errado em pular de emprego em emprego, de casamento em casamento, mudar de casa, clima, etc., desde que se possa bancar as pensões e suportar o tumulto das lembranças”.
Como psicoterapeuta de jovens, conheço alguns de meus pacientes desde crianças, a maioria deles vi nascer e acompanhei até à idade adulta. Apesar de meus muitos anos da prática médica, fico assombrado com o sofrimento desses, para mim, sempre, jovens, embora, alguns deles já estejam para lá dos quarenta. Para mim continuam crianças, do ponto de vista afetivo e são, também, agora, mãe e pai. Quando percebem que a vida é uma repetição de fatos, entram em tédio vital.
A vida real não é aquela para a qual foram educados, se formaram, e, muito menos a dantes apalavrada, ou, aquela com a qual sonharam ou lhes foi prometida. Nem eles nem eu, conseguiríamos assegurar, que o Mercado ou alguma das Entidades Transcendentais ou Metafísicas apelidadas de representantes do Poder, têm ocupação para tantos portadores de títulos universitários.
Entretanto, mesmo antes da crise econômica que estamos vivendo, eu já havia registrado tal fenômeno clínico. E, não pretendo discutir aqui a qualidade das universidades: particulares, estaduais, federais, e sim, a condição dos jovens que navegam por tais cursos... de curso tão impreciso. Já que contexto sócio/econômico-financeiro piorou, uma colocação no mercado de trabalho é cada vez menor, enquanto o avanço tecnológico está cada vez mais rápido. Logo, fica evidente, que, cada vez mais raros serão os empregos.
Perguntar não ofende:
“Não seria melhor que o dinheiro empregado para financiar esses jovens desavisados e seus responsáveis, fosse utilizado para melhorar os ensinos primário e médio ou as escolas técnicas? Não seria essa conduta mais urgente do que ficar proclamando estratégias e reformas curriculares?”
Cito, para terminar, um clichê que aprendi na minha infância:
“Tem muito cacique para pouco índio”.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Foi um dos primeiros neonatologistas brasileiros.

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