Por Weiber Xavier
(*)
Metade dos brasileiros
continua sem acesso à coleta de esgoto em pleno século XXI. Apesar do avanço da
medicina tem-se no Brasil mais de 100 milhões de pessoas sem acesso à água
tratada e sistemas de esgotamento sanitário. Quatro milhões de brasileiros
ainda não têm acesso a banheiro e apenas 44,92% dos esgotos do País são
tratados. No Ceará, dados revelam que apenas 64% da população têm acesso à água
tratada,25% com cobertura de esgoto e 35% com tratamento de esgoto. É calamitoso
caminhar à beira-mar e deparar-se com esgoto a céu aberto, o que dizer então da
situação na periferia sem tanta publicidade?
Dentre as doenças relacionadas à falta de saneamento como
hepatite A, diarreia infecciosa, amebíase, febre tifoide, entre outras há um
grave problema não somente de saúde pública mas social, financeiro e
ambiental.88% das mortes por diarreia no mundo são causadas por saneamento
inadequado segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS)
Segundo dados do Ministério da Saúde (2013) houve cerca de
340 mil internações por infecções gastrointestinais no País com o custo de cada
internação por paciente de R$ 355,71 na média nacional. Se 100% da população
tivesse acesso à coleta de esgoto haveria uma redução, em termos absolutos, de
74,6 mil internações, sendo 56% dessa redução ocorreria no Nordeste segundo
dados do Trata Brasil. Para cada R$ investido em saneamento gera economia de R$
na área da saúde segundo dados da OMS.
Existem leis que estabelecem diretrizes para o saneamento
básico em todo o Brasil, infelizmente como muitas leis em nosso País, não são
bem observadas e consideradas como prioridade pelos nossos dirigentes. Em ano
de eleição, diz-se que esse tema "não dá voto" e não causa
repercussão a "construção de um bairro saneado" como construir casas
populares mesmo sem nenhuma infraestrutura sanitária. Pode-se ter Minha Casa,
Minha Vida sem saneamento?
Pode-se pensar em desenvolvimento e construção de aquário, metrô,
viaduto, vila olímpica, "hub" e até mesmo hospitais quando se tem
esgoto a céu aberto nas ruas? Vive-se sob uma grande fossa, essa é a triste
realidade que se constata para muitos cearenses. Precisamos mudar esta
realidade e exigir investimentos no saneamento básico, como cidadãos esse é um
direito essencialmente básico.
(*) Médico
e professor de Medicina da UniChristus.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 22/8/2018. Opinião. p.16.
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