quinta-feira, 29 de novembro de 2018

CRESCIMENTO DAS GESTAÇÕES PUERIS



Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Dos comentários recebidos sobre o meu último artigo, que comentou o aumento de número de gestações em adolescentes, destaco um que me advertiu que eu deveria ter explicado melhor a relação entre o Abono Barriga e o maior número de gestações pueris, ao invés de misturar com reformas da previdência, trabalhista e outras quimeras enganativas...
O que temo ao abordar tais assuntos é envolver a Ciência da Estatística, deficiente e eivada de erros de coleta, criando mais um diagnóstico de situação apenas numérico, que serve exclusivamente como alavanca ao empoderamento político-ideológico, seguido de belos discursos, retóricos e infinitos.  Os números, nunca esquecer, prestam-se à interpretação que convém ao poder.  Deixando de lado os percentuais estatísticos e partindo para números absolutos, o IBGE informa que, de 1980 a 2000, aumentou em 15% o índice de gravidez na adolescência, na faixa de 15 a 19 anos. Essa é a única faixa etária que vem apresentando aumento de fecundidade no País. Isso é mais evidente nas camadas mais pobres da população. Cerca de 700 mil mulheres de 10 a 19 anos tornam-se mães a cada ano, sendo que 26% do total de partos são feito em mulheres dessa faixa etária. Por outro lado, são internadas por dia quase 150 adolescentes entre 10 e 19 anos, em virtude de abortos provocados. Essa é a quinta maior causa de internação de jovens em unidades do Sistema Único de Saúde. Dois fatos preocupantes são: a tendência de fazer abortos em estado adiantado de gravidez, quando os riscos são muito maiores, e a grande tendência de engravidar novamente.
Para piorar, temos 1,3 milhão de analfabetos, 17,5 milhões não frequentam a escola e 5,3 milhões concluíram apenas o ensino médio; 24 milhões não têm escolarização adequada e 6,6 milhões a têm defasada, com distorção de idade/série. Conferir em: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=253927.
O termo gestação pueril não existe na prática, pois criança que faz outra criança não é mais criança. É bom lembrar que o termo adolescência foi criado em pleno século XX, em contraponto ao que ocorria durante a revolução industrial, quando se passava diretamente de criança para a idade adulta.
Planos e projetos não possuem o dom de se sobrepor à realidade. O título desta resposta/comentário investe contra o papel da grande mídia brasileira na manipulação dos fatos apresentados à opinião pública. O fato de quem vive de bolsa família ter direito a um conversor grátis que transforma sua televisão de analógica em digital não é fruto do acaso. E ninguém comenta que o Abono Barriga é um incentivo direto à gravidez na adolescência e indireto ao crescimento populacional da ‘classe menos favorecida’, o que beira o crime.
O que se publica por ai é que tudo é uma questão de crise econômica. Mas não existem respostas simples para questões complexas.   
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

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