quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

BOLSA GESTAÇÃO


Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Assisto com cautela geriátrica às campanhas públicas, como sempre, pirotécnicas, mormente se o assunto tratado for de tema sexual, violência e envolvendo os jovens. Viralizam. Aquelas notícias sobre benesses e malefícios da tal Bolsa família, também, desde que implantada, passou a ser imexível. Proferem os denominados cientistas políticos ser ela o mais potente cabo eleitoral brasileiro.
Varando da obstinação psicótica (não referente a indivíduos portadores de psicose e mais como ideia fixa), surge construída a cortina noticiosa da corrupção envolvendo as mais diferentes plataformas difusoras; arrisco-me, como solitário contributo de médico, a mencionar as consequências da gestação em adolescentes ou, dito de maneira distinta: uma criança desenvolvendo outra em seu interior.
Assim, se a corrupção passou a ser o bode expiatório das mazelas nacionais, e ela preexistia na formação da nação brasileira, acrescento mais esta:
Para mim a crise atual não passa de mais um episódio banal(?), corriqueiro que tomou rumos diversos das tradicionais revoluções latino-americanas. E espero que assim continue.
Advirto, pois o País se encontra dividido, e os grupos se digladiam em adjetivismos explosivos que nada de positivo podem trazer. Mexer agora com eleições precoces, soluções e medidas conjunturais é tornar muito pior o que acontece. Após escritos esses avisos introdutório-filosóficos, acudo-me no bardo inglês William Shakespeare (1564-1616) quando afirma: O diabo pode citar as Escrituras quando isso lhe convém.
E, no caso nosso, digo: “Poderosos que jamais foram trocados não vão dar certo, seja reforma trabalhista ou previdenciária, sem antes advir a reforma política”.
Peço, por favor, não me respondam com números a este incentivo ao aumento populacional para com o título deste artigo. O que temo ao abordar tais assuntos é envolver a Ciência da Estatística deficiente e erros de coletas, criando mais um diagnóstico de situação, apenas numérico, que serve exclusivamente como alavanca ao empoderamento político-ideológico, seguido dos belos discursos, retóricos e infinitos.
Os números, nunca esquecer, prestam-se à interpretação que convém ao poder. A minha pergunta direta é: - Com a complementação da ajuda (Programa Bolsa Família P.B.F.), aumentada para gestantes, e que se prolonga por seis ou mais meses, o tempo do incentivo à amamentação não estaria ajudando o avanço do número de gestações nas jovens? Jovens que, com a gravidez, passam a ter direito a candidatar-se ao P.B.F., acrescentando às suas ínfimas benesses mais um valor agregado à tal agora contaminada Bolsa Gestação?
Em termos de sociedade (de um país), a adição de um valor aos produtos se dá quando há remuneração de fatores de produção. Com o programa Bolsa família não se produz coisa alguma, é sim obra caridosa, que gera o aumento do número das gestações nas adolescentes indigentes (como era denominado o doente pobre que não podia pagar o ato médico e era socorrido pelas Santas Casas da Misericórdia). Isto acende a luzinha de meu acautelar geriátrico: Não estamos aumentando a população da Miséria? Cuidado com mais essa pseudoajuda. De nada vale ajudar os fracos e depois não ampará-los.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

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