quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

ANSIEDADE E CRISE NACIONAL


Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Por que as pessoas sofrem tanto com a ansiedade, nos dias de hoje? Por que a ansiedade é um tema tão recorrente na Mídia e tão discutido em nossa vida cotidiana?
Ansiedade, ânsia ou nervosismo é uma característica biológica do ser humano e de animais, que antecede momentos de perigo real ou imaginário, marcada por sensações corporais desagradáveis, tais como uma sensação de vazio no estômago, coração batendo rápido, medo intenso, aperto no tórax, transpiração, e outras alterações associadas à disfunção do sistema nervoso autônomo.
É normal as pessoas terem medo. O medo é inerente à nossa espécie. O que deve ser analisado é a intensidade do medo. Sei que ter medo todo mundo tem. O grave é que, embora isso pareça banal, está se tornando num dos maiores problemas de Saúde Pública ao lado da depressão e do esgotamento nervoso (estresse).
Depressão e ansiedade (transtornos de internalização) são os maiores contribuintes para o elevado número de suicídios entre os jovens. Nos adultos ainda mais, por consequência. 
Acreditamos que a simples participação do indivíduo na sociedade contemporânea já preenche, por si só, condição suficiente para o surgimento da ansiedade. A agitada dinâmica existencial da modernidade, sociedade industrial, competitividade, consumismo desenfreado, e assim por diante, são as causas.
Sabemos também que a nossa saúde depende das nossas condições, não só financeiras, mas também do nosso modo de viver, de como lidamos com nossos problemas e de como encaramos nossa vida individual e coletiva. O desgaste a que as pessoas são submetidas durante todo o processo de vida, ou seja, as cobranças e as regras da sociedade, é um dos fatores que influenciam no desenvolvimento de quadros de ansiedade.
Daí que o medo existencial leva ao medo não nomeado e generalizado. O medo é focal, tornou-se abrangente, anônimo, espalhado, difuso e a resposta das pessoas é— ansiedade. Bem diverso dos nossos ancestrais em que o tigre de dente de sabre era a causa.
O medo difuso, líquido, tornou-se agora gasoso. Das reações humanas à adversidade e por mais ínfimo que seja, o medo é a mais maldita. Imaginem o que nós brasileiros estamos passando diante dos recentes acontecimentos. O que assistimos ao vivo não passa da realidade dos nossos pesadelos. O mau sonho, apesar de vir do mundo virtual, torna real aquilo que nós sabíamos, mas não tínhamos provas. Agora é real.
Será que as nossas Instituições estarão preparadas para nos tirar desta ansiedade vital? Como será o nosso futuro como Nação?
Basta lembrar que a crise nacional dura há mais de dois anos, oficialmente.  Juízes, delações, desemprego, não saber como ganhar o pão de cada dia. Violência por todos os lados, da ansiedade simples passando para o que denomino de ansiedade vital. Lembro que a ansiedade, quando aparece, fica presente o tempo todo e acaba nos controlando através da raiva e da revolta. É um desorganizador da VIDA.
Quem trabalha com saúde mental sabe que nos tempos de crise, não adianta dizer que crise é sinal de mudanças. O que sei é que a insegurança gera o medo e a ansiedade é como o organismo reage ao perigo. Costumo dizer que conheço apenas duas maneiras de encarar o medo, uma é de ele fugir e a outra é enfrentá-lo. A minha pergunta é quando isto tudo vai terminar. A duração breve das nossas vidas proíbe-nos de alimentar uma esperança a muito longo prazo.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

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